Offline
Capivaras: as carismáticas e tranquilas figurinhas repetidas no Brasil
As capivaras, ícones carismáticos do Brasil, são os maiores roedores do mundo, prosperando em ambientes urbanos, o que as torna populares em memes e comidas temáticas. No entanto, sua presença exige conscientização sobre a convivência segura
Publicado em 27/07/2025 16:04
Brasil

Tranquilas, engraçadas e carismáticas, as capivaras são figurinhas repetidas por todo o Brasil. Comumente vistas relaxando em grupo, perto de lagos, curtindo um solzinho, esses animais são herbívoros com hábitos semiaquáticos, sendo os maiores roedores do mundo, podendo chegar até 1,3 metro de comprimento e 60 centímetros de altura, pesando entre 50 e 100kg. Por sua presença comum, natureza amigável e aparência cativante, elas se tornaram grandes ícones no país, populares em memes e vídeos virais, são personagens temas em camisetas, canecas, chaveiros e bottons. 

Em alguns lugares, as comidas em formato de capivara já são bem comuns. A capixinha e o capitel, coxinha e pastel em formato de capivara, são virais nas redes e um lanche famoso, especialmente em Curitiba, lugar em que foram popularizados. A sua presença em ambientes urbanos, como em parques e áreas próximas a rios, tornou esses animais mais acessíveis e visíveis para as pessoas, gerando curiosidade e interesse.

Hábitos 

Que as capivaras são as rainhas da internet brasileira, isso todo mundo sabe. Com seu jeito "good vibes", esbanjando simpatia, tornaram-se verdadeiras celebridades nacionais. Mas por trás de toda essa fofura e bom humor, há um universo fascinante de hábitos, comportamentos e um papel ecológico que merecem atenção e cuidado. 

Nativas da América do Sul, pertencem ao grupo dos caviomorfos, roedores que incluem também porquinhos-da-índia, preás e cutias. Uma hipótese interessante sobre a chegada de seus ancestrais na América do Sul sugere que roedores africanos histricognatos teriam atravessado o Oceano Atlântico em "jangadas" naturais (pedaços de terra soltos), adaptando-se e evoluindo no continente.

"No Brasil, as capivaras são encontradas em todas as regiões, desde que haja corpos d'água permanentes, como rios, lagos, estuários e pântanos, elas não dispensam um bom mergulho! São excelentes nadadoras e dependem da água para se refrescar e se proteger de qualquer perigo", descreve Eduardo Bessa, professor de ciências naturais e biologia da Universidade de Brasília (UnB). 

A professora Gisela Sobral é coordenadora do Projeto Incisivo, que trabalha na divulgação científica sobre roedores. De acordo com a especialista, as capivaras são seres sociais e com uma rotina bem definida. São mais ativas no comecinho da manhã e no final da tarde, aproveitando as horas quentes para se refrescar na água.

Costumam viver em grupos de 10 a 30 indivíduos, mas em épocas de seca podem se juntar em bandos ainda maiores. "Cada grupo tem o próprio pedacinho de terra, que defendem com unhas e dentes. Embora sejam conhecidas pela sua tranquilidade, não gostam de intrusos no seu território, uma capivara desgarrada não costuma ser bem-vinda", detalha. 

Além disso, a professora Patrícia Monticelli da Universidade de São Paulo (USP), destaca dois comportamentos fascinantes das capivaras. O primeiro é o hábito materno, em que as fêmeas de um bando, por serem parentes — tias, mães, avós ou primas — se protegem mutuamente. "A capivara tem um cuidado muito grande com os filhotes, todos os animais do grupo ficam atentos aos menores, por isso as capivaras com filhotes tendem a  atacar pessoas que insistem na aproximação, ignorando os sinais de alerta", explica a professora.

Alimentação e reprodução

As capivaras são herbívoras, alimentando-se principalmente de gramíneas e plantas aquáticas. Elas são consideradas "engenheiras de ecossistemas" por seu papel como pastadoras, consumindo grandes quantidades de vegetação e abrindo "caminhos" que podem alterar pequenos cursos d'água. Além disso, ao defecar fora d'água, contribuem para a fertilização do solo nas margens de rios e lagos. 

A reprodução das capivaras pode ocorrer durante todo o ano, dependendo da disponibilidade de alimento, mas tende a se concentrar no início das chuvas. A gestação é a mais longa entre os roedores, durando de 130 a 150 dias (cerca de quartro a cinco meses), resultando no nascimento de 1 a 4 filhotes, que nascem bem desenvolvidos, com pelos e são capazes de andar e comer alimentos sólidos poucas horas ou dias após o nascimento. 

A vida em grupo é bem organizada, com um macho dominante que geralmente acasala com a maioria das fêmeas, sendo comum que elas deem à luz juntas, transformando o grupo em uma verdadeira "creche" de filhotinhos peludinhos. "Uma curiosidade legal é que, por terem filhotes juntas, elas praticam uma 'amamentação compartilhada', ou seja, as mamães capivaras alimentam não só seus próprios filhotes, mas também os das outras", conta a professora Lilian Luchesi, também do Projeto Incisivos. 

O principal ponto que tem feito as capivaras ganharem cada vez mais destaque é a sua presença nas cidades. Por que estamos vendo esses animais em parques urbanos e margens de rios? Elas são adaptáveis e aprenderam a conviver com os humanos e a verdade é que as cidades estão invadindo o espaço delas, não o contrário. Com o crescimento urbano e a diminuição de seus habitats naturais, buscam refúgio em áreas verdes das cidades, onde encontram água e alimento. "E sem seus predadores naturais, como sucuris e onças, a população de capivaras em ambientes urbanos tende a crescer ainda mais", explica EduardoBessa Bessa.

Bessa

Então, como conviver harmoniosamente com essas celebridades urbanas? A regra de ouro é manter distância. Se encontrar uma capivara, admire-a de longe. Se ela estiver te observando fixamente, é um sinal de que não está confortável. Lembre-se que capivaras são protegidas por lei e tentar pegá-las, alimentá-las ou criá-las como animal de estimação é crime.

Existem medidas para controlar a população de capivaras em áreas onde elas se tornam um problema, como a castração e o uso de contraceptivos. "Em casos extremos, a caça regulatória pode ser autorizada por órgãos ambientais competentes, mas essa é a última alternativa, pois o ideal é um planejamento urbano que respeite o espaço desses animais e preserve seus habitats", afirma Gisela Sobral. 

Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Correio Braziliense

Comentários