Forças russas iniciam bombardeios à região de Donbass, território controlado parcialmente por separatistas pró-Kremlin. Ataques com mísseis a 80km da fronteira com a Polônia matam sete civis. Combatentes resistem em Mariupol, no sudeste
“Não importa quantos soldados forem trazidos até aqui, lutaremos. Vamos continuar lutando e nos defendendo, e estamos fazendo isso diariamente. Nós não desistiremos de nada que seja ucraniano, mas não precisamos de nada que não seja nosso”, declarou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ao discursar em vídeo e anunciar o início da ofensiva russa contra o Donbass — região do leste do país controlada parcialmente pelos separatistas pró-Moscou. “Agora podemos dizer que as tropas russas começaram a batalha pelo Donbass, para a qual se prepararam durante muito tempo. Uma grande parte de todo o Exército russo se dedica agora a esta ofensiva”, afirmou.
Nos últimos dias, a Rússia moveu 11 novos batalhões para o leste e o sul da Ucrânia, além de mobilizar artilharia pesada e aviação. “A ofensiva em Donbass foi deflagrada, de fato, no sábado”, admitiu ao Correio Oleksandr Honcharenk, prefeito de Kramatorsk — cidade na região de Donetsk onde 57 pessoas morreram no bombardeio a uma estação ferroviária, 11 dias atrás.
A parte ocidental da Ucrânia foi alvo de pesados bombardeios, ontem. Pela manhã, quatro foguetes atingiram Lviv, matando sete civis e ferindo 11. “O que vemos é um genocídio”, proclamou Andriy Sadovyi, prefeito da cidade de 800 mil habitantes situada a 80km da fronteira com a Polônia. O Exército russo informou que destruiu, com “mísseis de alta precisão” um “centro logístico e importantes lotes de armamentos estrangeiros, fornecidos à Ucrânia pelos EUA e países europeus, que estavam estocados” perto de Lviv.
Para Artem Oliinyk, diretor do Instituto para Relações de Governo (em Kiev), a batalha pelo Donbass pode se tornar um “ponto de virada” na guerra. “O objetivo da Rússia não é apenas tomar os territórios de Donetsk e de Lukansk, mas também desmantelar as Forças Armadas da Ucrânia. O leste do país é um território preparado para os combates, os quais não cessam desde 2014. Outro alvo para o Kremlin é Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, impossível de ser capturada. A Rússia quer desestabilizar a Ucrânia e destruí-la, enquanto Estado.”
O britânico Frank Ledwidge, estrategista militar da Universidade de Portsmouth (Reino Unido), prevê uma longa batalha em Donbass. Segundo ele, o Exército russo conta com graves problemas endêmicos, além de não estar bem preparado para esse tipo de combate. “O moral dos soldados está baixo. Os novos recrutas e reservistas recentemente convocados não estarão prontos para se juntar às tropas pelas próximas semanas ou meses. Os ucranianos mobilizaram as melhores unidades e combateram naquela região pode quase oito anos”, afirmou, por e-mail.
Ledwidge crê que os russos não poderão repetir as falhas logísticas do cerco a Kiev. “A artilharia e o poderio aéreo de Moscou serão um grande desafio, embora os ucranianos tenham demonstrado, até agora, que podem se defender bem. Será uma longa campanha, desde que o Ocidente continue a fornecer armas.”
Combatentes seguiam entricheirados em uma siderúrgica de Mariupol, onde 20 mil civis teriam morrido. “Sabotem as ordens dos ocupantes. Não cooperem com eles (...) Resistam”, ordenou Zelensky. Em meio à disputa pela cidade portuária no sudeste da Ucrânia, a televisão estatal russa divulgou um vídeo de dois prisioneiros, identificados como os cidadãos britânicos Shaun Pinner e Aiden Aslin, capturados em combates na Ucrânia, que pedem ao primeiro-ministro Boris Johnson para negociar sua libertação.