A imagem em destaque neste texto é da repórter Daphne Rousseau, da Agência France-Press, quando as autoridades já tinham cobrido os corpos da família morta - (crédito: AFP
A mãe, um adolescente, e uma garotinha já estavam mortos no momento do registro feito por uma fotógrafa do jornal norte-americano, 'The New York Times'. Pela rua, as malas da família ficaram espalhadas pelo chão. Entre os pertences, uma caixa verde tinha um pequeno cachorro latindo
A fotógrafa Lynsey Addario, do jornal norte-americano The New York Times, flagrou, neste domingo (6/3), mais um capítulo trágico da guerra na Ucrânia. Um ataque com morteiros russos mataram uma família de ucranianos que tentavam deixar a cidade de Irpin, que fica a cerca de 25 km de Kiev, capital do país.
O clique de Addario ocorreu logo após a detonação dos morteiros, quando soldados ucranianos tentam salvar o pai da família, que estava inconsciente no chão. A mãe, um adolescente, e uma garotinha já estavam mortos. Pela rua, as malas das famílias ficaram espalhadas pelo local. Perto deles, uma caixa verde tinha um pequeno cachorro, que latia.
Ainda pelas redes sociais, Addario — especializada em cobertura jornalística de guerras — descreveu o momento: "Hoje, testemunhei tropas russas alvejando deliberadamente civis que fogem de Irpin para se salvarem. Ao menos três membros de uma família de quatro pessoas foram mortos na minha frente”.
Até o momento, a fotógrafa não havia conseguido informações sobre o estado de saúde do pai.
Atenção! A imagem abaixo é forte e envolve violência gráfica
A foto é reproduzida no próprio tuíte de Addario — com link para a matéria do The New York Times. A imagem em destaque neste texto é da repórter Daphne Rousseau, da Agência France-Press, quando as autoridades já tinham cobrido os corpos da família morta.
Os morteiros caíram perto de uma ponte na parte norte da cidade, onde existe uma passagem de civis que tentam deixar a cidade, segundo informações de Addario. Um vídeo, também divulgado pelo New York Times, mostra o exato momento da explosão do morteiro.
A imagem foca em um soldado ucraniano ao lado de uma grade — atrás dele, civis cruzam a rua. Na hora da explosão muita fumaça toma conta do local.
"Corpos por todos os lados"
Mais ao norte, em Kiev, os bairros operários nas proximidades da capital, como Bucha e Irpin, já estão na linha de fogo e os últimos ataques aéreos convenceram muitos moradores de que chegou o momento de fugir. "Eles estão bombardeando áreas residenciais, escolas, igrejas, prédios, tudo", lamentou a contadora Natalia Didenko
Em Bilohorodka, quase no limite da capital, as tropas ucranianas colocaram explosivos na última ponte que permanece de pé para tentar frear a ofensiva russa.
"Esta é a última ponte, vamos nos defender e não vamos permitir que cheguem a Kiev", afirmou um combatente que se identificou apenas como "Casper".
Em Chernihiv, uma cidade próxima da fronteira com Belarus e Rússia, dezenas de civis morreram.
"Havia corpos por todos os lados. As pessoas estavam esperando para entrar na farmácia aqui e estão todas mortas", disse à AFP um homem que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome, Serguei, em meio ao barulho das sirenes de alerta.
Correspondentes da AFP observaram cenas de devastação no local, apesar de Moscou insistir que não ataca áreas civis.
Moscou colocou suas perdas em 498 soldados russos na quarta-feira, em comparação com 2.870 no lado ucraniano. Kiev afirmou no domingo ter matado 11.000 soldados russos, sem divulgar suas perdas militares. Números impossíveis de verificar de forma independente
A ONU, por sua vez, confirmou a morte de 351 civis e mais de 700 feridos.
Para o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, o exílio forçado de 1,5 milhão de pessoas do país representou "a crise de refugiados mais rápida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial". Mais de um milhão de pessoas cruzaram a fronteira da Ucrânia para a Polônia desde o início da invasão.
Ronayre Nunes