Rússia invade Ucrânia: 7 questões para entender a crise
Guerra
Publicado em 24/02/2022
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Durante meses, o russo Vladimir Putin vinha negando que planejava atacar a Ucrânia. Nesta quinta-feira (24/02), no entanto, forças militares russas iniciaram uma ampla invasão da Ucrânia.
A ação de Putin ocorre dias depois que ele ignorou um acordo de paz e ordenou que tropas fossem para duas regiões do leste controladas por rebeldes - em suas palavras, para "manter a paz".
A seguir, veja 7 perguntas para entender a crise:
Nesta quinta, forças militares russas iniciaram invasão da Ucrânia. Há relatos de tropas cruzando diversos pontos da fronteira e explosões perto das principais cidades ao redor do país — e não apenas na região de Donbas, onde grupos separatistas foram reconhecidos e apoiados recentemente pela Rússia. Há ao menos sete mortos e 19 desaparecidos até agora, segundo autoridades ucranianas.
Em um pronunciamento televisionado, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que a Rússia não planeja ocupar a Ucrânia, mas alertou que a resposta será "imediata" contra qualquer um que tente parar a operação.
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Putin instou os soldados ucranianos a se renderem e voltarem para casa — do contrário, a própria Ucrânia seria culpada pelo derramamento de sangue, disse o presidente russo. Ele acrescentou que o conflito entre as forças russas e ucranianas são "inevitáveis" e "apenas uma questão de tempo".
Logo depois, unidades militares ucranianas foram atacadas. "Putin lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia", afirmou o governo ucraniano.
Em pronunciamento em vídeo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, decretou lei marcial em todo o país, instaurando um regime de guerra e substituindo a legislação vigente até em então. Grande parte dos reservistas foi convocada.
"Sem pânico. Nós somos fortes. Estamos prontos para qualquer coisa. Nós vamos derrotar qualquer um porque nós somos a Ucrânia", disse Zelensky. Ele afirmou ainda que a Rússia fez bombardeios em infraestruturas militares e unidades de segurança na fronteira.
A Rússia há muito resiste ao movimento da Ucrânia de aproximação das instituições europeias, tanto a Otan quanto a União Europeia. Agora, Putin afirmou que a Ucrânia é uma marionete do Ocidente e nunca foi um Estado adequado.
Ele exige garantias de que a Ucrânia não se juntará à Otan, uma aliança militar de 30 países, e para que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro.
Como ex-república soviética, a Ucrânia tem profundos laços sociais e culturais com a Rússia, e o idioma russo é amplamente falado lá, mas desde que a Rússia invadiu a Crimeia e Sevastopol em 2014 essas relações se desgastaram.
A Rússia atacou a Ucrânia quando seu presidente pró-Rússia foi deposto no início de 2014. Desde então, a guerra no leste já custou mais de 14 mil vidas.
Nesta semana, Putin reconheceu oficialmente a independência de duas regiões separatistas na Ucrânia: Donetsk e Luhansk. O decreto de reconhecimento de Putin permite que a Rússia construa bases militares.
Ao colocar tropas russas em uma área com centenas de violações diárias do cessar-fogo, o risco de uma guerra aberta se tornou muito maior.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o reconhecimento da independência da Rússia como uma violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia. O Ocidente diz que é uma violação do direito internacional.
Dois acordos de paz de Minsk de 2014-15 destinados a acabar com o conflito teriam dado aos rebeldes um status especial dentro da Ucrânia. Os acordos nunca foram cumpridos, mas as negociações ainda estavam em andamento, com França e Alemanha envolvidas nelas. Mas agora as negociações parecem ter fracassado.
O que torna a situação mais alarmante é que os dois estados rebeldes não apenas reivindicam o território limitado que ocupam, como também cobiçam todas as regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk. "Nós os reconhecemos, não reconhecemos, e isso significa que reconhecemos todos os seus documentos", disse Putin.
A Rússia já havia preparado o terreno para o reconhecimento dos rebeldes, com acusações infundadas de que a Ucrânia havia cometido "genocídio" no Leste. A Rússia distribuiu cerca de 700 mil passaportes em áreas controladas por rebeldes, para que possa argumentar depois que qualquer ação militar terá como objetivo proteger seus próprios cidadãos.
Os EUA e outros aliados da Otan deixaram claro que não têm nenhum plano de enviar tropas de combate para a Ucrânia, mas estão oferecendo apoio, na forma de conselheiros, armamentos e hospitais de campanha.
Quatro unidades de combate, num total de 5 mil soldados, foram enviadas aos países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) e à Polônia. Outros 4 mil soldados poderiam ser enviados a Romênia, Bulgária, Hungria e Eslováquia.
Aliados da Otan deixaram claro que não há planos de enviar tropas de combate para a própria Ucrânia. Em vez disso, ofereceram à Ucrânia conselheiros militares, armas e hospitais de campanha.
As principais resposta foram sanções contra a Rússia:
O mais duro golpe econômico seria desconectar o sistema bancário da Rússia do sistema de pagamento internacional Swift. Isso, no entanto, poderia impactar negativamente as economias dos EUA e da Europa.
Sanções maiores ainda não foram implementadas.
Os EUA estão olhando para as instituições financeiras e indústrias fundamentais da Rússia; a UE está se concentrando no acesso russo aos mercados financeiros e o Reino Unido alertou que "aqueles dentro e ao redor do Kremlin não terão onde se esconder", com restrições impostas às empresas russas que acessam o dólar e a libra.
O golpe econômico final seria desconectar o sistema bancário da Rússia do sistema internacional de pagamentos Swift. Mas isso pode ter um grande impacto nas economias dos EUA e da Europa.
Enquanto isso, 5 mil soldados da Otan foram levados aos Estados bálticos e à Polônia. Outros 4 mil poderiam ser enviados para a Romênia, Bulgária, Hungria e Eslováquia.
A Rússia já falou de um "momento da verdade" no reposicionamento de suas relações com a Otan e destacou três exigências.
Primeiro, quer uma promessa sustentada legalmente de que a Otan não expanda além de sua composição atual. "Para nós, é absolutamente mandatório garantir que a Ucrânia nunca, jamais se torne um membro da Otan", disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov.
Putin reclamou que a Rússia "não tem mais para onde recuar — eles acham que vamos simplesmente ficar sentados?"
No ano passado, o presidente russo escreveu um longo artigo descrevendo russos e ucranianos como "uma nação". Ele descreveu o colapso da União Soviética, em dezembro de 1991, como a "desintegração da Rússia histórica" e considera que os atuais líderes ucranianos estão implementando um "projeto anti-Rússia".
Putin também argumentou que, se a Ucrânia entrar na Otan, a aliança pode tentar recapturar a Crimeia.
Suas outras demandas são de que a Otan não posicione "armas de ataque perto das fronteiras da Rússia" e que remova forças e infraestrutura militar de Estados-membros que entraram na aliança depois de 1997.
Isso inclui países da Europa Central, do Leste Europeu e dos Bálticos. Na verdade, a Rússia quer que a Otan volte a suas fronteiras de antes de 1997.
A Otan é uma aliança de defesa com uma política de portas abertas a novos integrantes, e seus 20 Estados-membros são taxativos de que isso não mudará.
O presidente da Ucrânia pediu por "prazos claros e factíveis" para seu país se juntar à Otan, mas não existe possibilidade de que isso ocorra por um bom tempo, como deixou claro o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz.
A ideia de que qualquer membro atual da Otan desistiria de sua participação no bloco é inimaginável. Entretanto, na visão de Vladimir Putin, o Ocidente prometeu em 1990 que a Otan não expandiria "nenhuma polegada na direção do Oriente", mas fez isso assim mesmo.
No entanto, isso foi antes do colapso da União Soviética, então a promessa feita para o então presidente soviético, Mikhail Gorbachev, referia-se apenas à Alemanha Oriental no contexto de uma Alemanha reunificada.
Gorbachev disse mais tarde que "o tema da expansão da Otan nunca foi discutido" na época.
Aparentemente não neste momento. França e os EUA cancelaram as negociações planejadas com o ministro das Relações Exteriores da Rússia. Mas tanto a França quanto a Alemanha disseram, antes da invasão, que a possibilidade de diálogo estava aberta.
Qualquer acordo teria que cobrir tanto a guerra no leste quanto o controle de armas.
Os EUA se ofereceram para iniciar negociações sobre a limitação de mísseis de curto e médio alcance, bem como sobre um novo tratado sobre mísseis intercontinentais. A Rússia queria que todas as armas nucleares dos EUA fossem barradas fora de seus territórios nacionais.
A Rússia foi receptiva em relação a um "mecanismo de transparência" proposto de verificações mútuas em bases de mísseis — duas na Rússia e duas na Romênia e na Polônia.