Impressão artística de gás e poeira em um disco protoplanetário: região com condições químicas que resultaram na vida na Terra - (crédito: M.Weiss/Center for Astrophysics/Harvard & Smithsonian/Divulgação)
Uma equipe internacional de astrônomos identificou a fórmula da vida na Terra em um berçário de planetas, sugerindo que esses mundos são potencialmente habitáveis. Usando dados do radiotelescópio Alma, no Chile, os cientistas mapearam, com um nível de detalhamento sem precedentes, os elementos químicos de cinco discos protoplanetários — regiões de poeira e gás onde esses corpos celestes se formam, em torno de jovens estrelas.
As moléculas contidas nesses discos impactam os futuros planetas de várias maneiras, incluindo seus “ingredientes”. Por exemplo, podem determinar onde e como eles se formarão, qual sua composição química e se há compostos orgânicos necessários para o florescimento da vida como se conhece na Terra. O projeto Moléculas com Alma em Escalas de Formação de Planetas (Maps) se concentrou nos discos protoplanetários ao redor das jovens estrelas IM Lup, GM Aur, AS 209, HD 163296 e MWC 480 — todas na Via Láctea, entre 300 e 500 anos-luz da Terra — porque, nesses locais, já foi detectado que há formação de planetas em curso. Também nessas regiões, sabe-se que há berçários de cometas e asteroides.
O Alma permitiu aos cientistas rastrear, pela primeira vez, moléculas nas regiões mais internas dos discos protoplanetários, em escalas de tamanho semelhantes aos do Sistema Solar. Elas foram identificadas em quatro dos cinco discos. “Nossa análise mostrou que as moléculas estão localizadas principalmente nessas regiões internas, com abundâncias entre 10 e 100 vezes maiores do que os modelos previram”, relata John Ilee, pesquisador da Universidade de Leeds, no Reino Unido, que liderou o estudo. Ele conta que uma das muitas descobertas do mapeamento é a sugestão de que as condições químicas básicas que resultaram na vida na Terra poderiam existir mais amplamente em toda a galáxia.
Entre o material identificado pelo Alma, os cientistas observaram moléculas orgânicas mais complexas, como HC3N, CH3CN e c-C3H2. Como elas são compostas por carbono, têm maior probabilidade de servir de matéria-prima para prebióticas maiores, ou seja, os blocos básicos de construção da vida. Embora essas moléculas tenham sido detectadas em discos protoplanetários anteriormente, o Maps é o primeiro estudo sistemático em alta resolução espacial e sensibilidade, e o primeiro a encontrar os compostos em quantidades tão grandes.
“A presença dessas grandes moléculas orgânicas é significativa porque elas são o ponto de partida entre as mais simples baseadas em carbono, como o monóxido de carbono, que é encontrado em abundância no espaço, e as mais complexas, necessárias para criar e sustentar a vida”, destaca o astrônomo. As descobertas do Maps foram publicadas ontem, em 20 artigos, na plataforma de acesso livre arXiv, e também formarão uma edição especial do Astrophysical Journal, contendo as imagens em alta resolução obtidas pelo Alma.
Paloma Oliveto