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Solteiras não estão condenadas à infelicidade, diz autora de 'O Fim do Amor' A BBC News Mundo, serviço em língua espanhola da BBC, conversou sobre esse e outros temas acerca d
Publicado em 02/09/2021 16:48
Internacional
Alejandro Guyot
"Hoje, as coisas mudaram e a felicidade plena é algo que nos importa muito", diz escritora sobre relacionamentos

BBC News Mundo: Por que pesa tanto o fato de uma mulher ser solteira?

Tenenbaum: Ainda existe um valor muito importante em ser uma mulher casada e mãe. A questão da solteirice começa a pesar em certa idade pela ideia de que o tempo para ter um filho está acabando.

E essa questão com os homens não é tão importante, porque parece que eles podem ter filhos em qualquer momento.

Há um estigma muito grande, não apenas com as mulheres que escolhem outros estilos de vida, mas também com as que têm outras vidas porque foi assim que aconteceu.

Ainda existe uma ideia muito forte de que uma mulher que não tem um homem e uma família nuclear é uma fracassada, porque não vale nada ou porque perdeu a experiência mais importante da vida.

As coisas estão mudando, mas as mudanças são lentas. Vamos pensar no divórcio. Há 20 anos, um casal que se divorciava era uma tragédia e um fracasso. Hoje as coisas não são vistas mais assim.

BBC News Mundo: O código atual de um namoro é pior do que antes? As regras estavam mais claras no passado?

Tenenbaum:Não sei se é pior ou melhor. Acho que agora as pessoas estão se casando mais velhas, então passam por mais vínculos, mais rejeições (...) estamos em busca e isso produz mais ansiedade.

Pode ser que antes houvesse mais clareza com alguns códigos. Há 50 anos, estava tudo bem quando (um casal) dava mais ou menos certo, não necessariamente se buscava a felicidade plena. Hoje, as coisas mudaram e a felicidade plena é algo que nos importa muito.

BBC News Mundo: Você diz que o grande poder do homem nas relações atuais é a indiferença. Como é isso?

Tenenbaum: Eu pego o trabalho da (socióloga) Eva Illouz que fala sobre o desapego masculino. Eles têm a possibilidade de dizer: "Não estou te ligando, não te respondo, estou frio, não mostro o que desejo".

É como uma forma de mostrar masculinidade, já que são poucas as que permanecem.

Antes, a masculinidade era mostrada no trabalho ou como um pai de família. Hoje todos esses papéis estão muito enfraquecidos.

Assim, o desapego de dizer "eu não me apego, não desejo, eu decido quando falamos e quando não" é uma forma de exercício da masculinidade que está em vigor.

Claro que também acontece com as mulheres e pessoas sem gênero.

Mas há certos relatos que se repetem na boca das mulheres e que se traduzem no sentimento de "pensei que estávamos em um vínculo e me deixaram na mão, ou saio com muitos homens e nenhum deles quer nada". Isso não acontece tanto ao contrário.

Tamara Tenenbaum
Alejandro Guyot
"O problema agora é que temos mais tempo, então podemos encontrar formas de conhecer gente aos 30 e poucos. E os aplicativos nos abrem caminhos", diz Tamara Tenenbaum

BBC News Mundo: Por que na era da comunicação parece que ficou difícil conhecer pessoas?

Tenenbaum: Era fácil antes? As mulheres se divorciavam e não sabiam com quem falar, porque era como se fossem velhas e não havia para onde ir.

O problema agora é que temos mais tempo, então podemos encontrar formas de conhecer gente aos 30 e poucos. E os aplicativos nos abrem caminhos.

Quando alguém diz que "é difícil conhecer gente" é porque em certa idade ela estave com todas as pessoas que conhecia e se não, é porque ela não tinha vontade.

BBC News Mundo: Você acredita que os aplicativos de namoro vieram para ficar?

Tenenbaum: Não vejo por que eles deveriam desaparecer. Há cada vez mais deles e o que acontece é que as pessoas os escolhem de acordo com critérios.

Eles vão ser mais fragmentados por idade ou por preferências socioculturais, ou por muitas coisas.

BBC News Mundo: E você acha que nos relacionamentos amorosos de hoje há mais liberdade do que antes?

Tenenbaum: Eu acredito que a liberdade é sempre positiva e angustiante. Parece que sempre é preciso buscar novos horizontes, sabendo que eles geram novos problemas.

Se vivemos em uma época onde a ansiedade é algo muito comum, então é lógico que muitas vezes apareça algum desejo por um limite, por uma estrutura. E muitos podem dar um basta, não quero mais essa liberdade.

Mas a liberdade é o melhor problema que se pode ter. Devemos insistir nisso.

BBC

Analía Llorente - BBC Mundo
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