O que aconteceu com a cruz em que Jesus foi crucificado Dezenas de mosteiros e igrejas em todo o mundo afirmam ter pelo menos uma peça da chamada "Vera Cruz (Verdadeira Cruz)"
Várias igrejas ao redor do mundo afirmam ter um pedaço da cruz em que Jesus morreu
Parte da cruz concedida à missão de Helena foi levada para Roma (a outra permaneceu em Jerusalém) e, segundo a tradição, grande parte dos restos mortais está preservada na Basílica de Santa Cruz da capital italiana.
Com a "descoberta", a expansão do Cristianismo na Europa durante a Idade Média e a cruz que se tornou o símbolo universal desta religião, començou também a multiplicação dos fragmentos que iam para outros templos.
Esses fragmentos são conhecidos como "lignum crucis" (madeira da cruz, em latim).
Além da Basílica da Santa Cruz, as catedrais de Cosenza, Nápoles e Gênova, na Itália; o mosteiro de Santo Toribio de Liébana (que tem a maior peça), Santa Maria dels Turers e a basílica de Vera Cruz, entre outros, na Espanha, afirmam ter um fragmento da cruz em que Jesus Cristo foi executado.
A Abadia de Heiligenkreuz, na Áustria, também guarda uma peça e outro segmento muito importante está na Igreja da Santa Cruz, em Jerusalém.
Junto com as evidências físicas, os concílios de Nicéia, no século 4, e de Trento, no século 16, deram validade espiritual à devoção dessas relíquias, tanto que foram registradas no catecismo:
"O sentido religioso do povo cristão encontrou, em todos os tempos, a sua expressão em várias formas de piedade em torno da vida sacramental da Igreja: como a veneração das relíquias", pode ler-se no artigo 1674 deste tratado que estabelece a doutrina da Igreja Católica.
Segundo historiadores, devido à perseguição, primeiros cristãos não guardaram muitos objetos relacionados à presença física de Jesus
Mas também indica que as próprias relíquias não são "objetos de salvação", mas significa alcançar a intercessão e "benefícios para Jesus Cristo seu Filho, nosso Senhor, que é apenas nosso redentor e salvador."
Da mesma forma, a multiplicidade de fragmentos foi questionada em sua época por vários pensadores.
O teólogo francês João Calvino (1509-1564) destacou no século 16, em meio a um boom do tráfico de relíquias em que se multiplicavam os pedaços da chamada "Vera Cruz" distribuída por igrejas e mosteiros, que "se coletássemos tudo que foi encontrado (da cruz), haveria o suficiente para transportar um grande navio. "
No entanto, essa afirmação foi posteriormente refutada por vários teólogos e cientistas ao longo da história.
Recentemente, Pierluigi Baima Bollone, professor emérito da Universidade de Turim (Itália), apontou em um estudo que se todos os fragmentos que afirmam fazer parte da cruz de Cristo fossem reunidos "atingiríamos apenas 50% do tronco principal".
Veracidade
"É muito provável que Helena tenha encontrado uma árvore, mas o que é muito provável também é que alguém a tenha colocado naquele lugar para dar uma ideia de que esta foi a cruz em que Jesus morreu", diz Moss.
A especialista indica que há outra dificuldade em provar se essas peças realmente pertenceram, pelo menos, a uma crucificação ocorrida na época de Cristo.
"Por exemplo, a datação por carbono-14, que seria uma das primeiras coisas a fazer, é cara e a igreja não tem recursos para esse tipo de trabalho", diz.
Cruz se tornou o símbolo do Cristianismo
E embora tenha sido possível obter fundos para financiar tal estudo, a investigação poderia afetar a integridade da relíquia.
"Acrescente a isso que a datação por carbono é considerada invasiva e um pouco destrutiva. Mesmo que você precise apenas de cerca de 10 miligramas de madeira, ainda envolve o corte de um objeto sagrado", observa Moss.
Em 2010, o pesquisador americano Joe Kickell, membro do Comitê para a Investigação Cética, organização sediada em Nova York (Estados Unidos), fez um estudo para determinar a origem dos pedaços que eram considerados parte da "Vera Cruz".
"Não há uma única evidência que sustenta que a cruz encontrada por Helena em Jerusalém, ou por qualquer outra pessoa, seja a verdadeira cruz em que Jesus morreu. A história de proveniência é ridícula. E seu caráter milagroso, também", escreveu Kickell em um artigo.
Para Moss e Goodacre, a chance de encontrar a verdadeira cruz de Cristo é muito remota.
"Seria necessário fazer um trabalho arqueológico, não teológico. E mesmo assim seria muito improvável encontrar a árvore de mais de dois milênios atrás", ressalva Goodacre.
Nesse sentido, para Moss, as dificuldades vêm até do objeto que estaríamos procurando.
"A palavra cruz tanto em grego quanto em latim se referia a uma árvore ou pau vertical em que se praticava a tortura", esclarece a historiadora.
"Em outras palavras, possivelmente estamos falando de uma única árvore ou estaca, não do símbolo que conhecemos atualmente."
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