Para o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice, há uma clara divisão entre as legendas de esquerda. Ele afirma que “ainda não se vê disposição para unificação ou diálogo”, sobretudo por conta do “egoísmo” de alguns candidatos e da tentativa de partidos menos fortes, como o
PCdoB e o PSol, de querer andar com as próprias pernas. “Depois que o Lula foi solto, não houve nenhum movimento de pacificação dentro da esquerda. O que se vê é, de um lado, o PDT liderado pelo Ciro Gomes, tentando se colocar como nova alternativa. Mas, para fazer isso, acaba batendo no Lula, que não conseguiu reunificar a esquerda e se apoia na gestão popular que já teve”, observa.
Outro problema da esquerda, segundo Noronha, é no enfrentamento a Bolsonaro. Na visão dele, a oposição erra em esperar que fatos isolados sejam fortes o suficiente para derrubar a popularidade do presidente, como inquéritos contra a família e amigos dele ou a política ambiental do governo. “A tentativa é de desgaste da imagem. A pauta ambiental, por exemplo, é importante, mas não decisiva. O que mais vai impactar é a economia e o avanço na área social. Se Bolsonaro colocar de pé o Renda Brasil, ele pode conquistar o eleitor por conta dos programas sociais e a esquerda vai perder a narrativa de que o presidente não se preocupa com os mais pobres”, diz.
Cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Baía acrescenta que a esquerda só tende a perder caso tente fechar os olhos para a realidade ou distorcer alguns fatos. Além disso, ele acredita que Bolsonaro já descobriu o “caminho do ouro” para se reeleger. “Na posição em que o presidente está, não precisa falar mal do PT. Basta falar das medidas que vem tomando. Ele não precisa criar polarização. Está sozinho no páreo e em campanha.”