Pesquisadores percorreram bairros em noves cidades gaúchas, de 25 a 27 de julho, para aplicar 4,5 mil testes rápido - Foto: Daniela Xu / UFPel / Divulgação
A pesquisa que rastreia a Covid-19 na população gaúcha mostra que a prevalência do coronavírus dobrou no intervalo de um mês no Rio Grande do Sul. Os números da sexta etapa do estudo, divulgados nesta quarta-feira (29/7) pelo governo do Estado e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em transmissão ao vivo em redes sociais, apontam que há um infectado a cada 104 habitantes. Os dados estimam que mais de 108 mil pessoas (de 78.774 a 146.196, pela margem de erro da pesquisa) já adquiriram anticorpos para a doença na população gaúcha.
“Além de nos apresentar a prevalência do coronavírus entre a população, de mostrar como o vírus está se comportando, o estudo é muito importante porque, quando são testadas, as pessoas respondem a um questionário. Utilizamos essas informações para nossas projeções, e isso é de muita relevância para o Estado”, explicou a coordenadora do Comitê de Dados, Leany Lemos.
De acordo com o resultado dos testes aplicados nesta etapa, estima-se que haja 108.716 pessoas já com anticorpos no Estado, equivalente a 0,96% da população. Na rodada anterior, no final de junho, as projeções eram de 53.094 pessoas infectadas pelo vírus (0,47% da população).
Os novos dados estimam que haja um infectado a cada 104 gaúchos – na testagem anterior, havia um caso positivo a cada 214 pessoas; na quarta, um a cada 562 pessoas; na terceira, um a cada 454 pessoas; na segunda, um a cada 769 e na rodada inicial, um a cada 2 mil.
Para cada 1 milhão de habitantes do Rio Grande do Sul, estima-se que existam 9.556 infectados reais e 5.254 notificações. Para cada caso notificado, portanto, existem cerca de dois casos não notificados.
A sexta etapa do estudo Epidemiologia da Covid-19 no RS (Epicovid19-RS) é a segunda da nova fase de aplicação de testes rápidos que estabeleceu um intervalo maior entre uma rodada e outra. Porém, a pesquisa segue com a mesma metodologia das etapas anteriores. O resultado da quinta etapa, realizada entre os dias 26 a 28 de junho, foi divulgado em 1° de julho. Entre os dias 24 e 26 de julho, foram testadas 4,5 mil pessoas nas nove cidades selecionadas: Pelotas, Porto Alegre, Canoas, Santa Maria, Uruguaiana, Santa Cruz do Sul, Ijuí, Passo Fundo e Caxias do Sul.
Dos 4,5 mil testes, 43 tiveram resultado positivo para coronavírus: 18 em Porto Alegre; 9 em Canoas; 7 em Passo Fundo; 2 em Caxias, Santa Cruz do Sul e Santa Maria; e 1 caso positivo detectado em Ijuí, Uruguaiana e Pelotas. Na etapa anterior, foram 21 resultados positivos, o que indica que o número mais que dobrou neste intervalo.
Ao comentar o aumento da prevalência, o epidemiologista e professor emérito da UFPel Fernando Barros, responsável por apresentar os resultados, ponderou que a UFPel e a equipe de pesquisadores não têm uma receita prescritiva. “No momento em que existe aceleração da infecção, quanto mais fizermos distanciamento social, melhor é. Se o município resolve que vai fazer uma espécie de lockdown dois ou três dias, é melhor do que não fazer. Se puder fazer mais, melhor ainda, mas são decisões municipais com base no quadro de infecções e mortes que cada município apresenta”, comentou.
Sempre que há um resultado positivo, a pesquisa estende os testes a quem mora ou quem tem contato permanente com essas pessoas. Entre os familiares, foram diagnosticados 42 resultados positivos (26%) e 120 resultados negativos (74%).
Considerando que a prevalência do coronavírus dobrou no Estado, os pesquisadores recomendam que a testagem via RT-PCR seja ampliada, com busca ativa de casos positivos. Além disso, recomenda que as medidas de distanciamento social sejam reforçadas em Porto Alegre, Região Metropolitana e Passo Fundo.
"É daí que surge a ideia, justamente, de termos um sistema de alerta, um sistema de bandeiras, que monitora como está o comportamento da pandemia e a capacidade de atendimento daquela região. Sempre digo que o vetor dessa doença é o ser humano. Nós somos os vetores, então é justamente os nossos cuidados, o distanciamento, o uso de máscara, evitar aglomerações. É assim que faremos essa contenção", reforçou Leany Lemos.
Uma vez que a sexta rodada mostrou prevalência de 0,96%, o governo do Estado e a UFPel decidiram antecipar a próxima rodada em uma semana. A sétima rodada, portanto, será entre os dias 15 e 17 de agosto. Essa antecipação estava prevista no termo de parceria sempre que o percentual se aproximasse ou superasse 1%. A oitava está prevista para ocorrer entre os dias 12 e 14 de setembro.
Distanciamento Controlado
Se comparados à quinta etapa da pesquisa, os dados da sexta etapa mostram que o número de pessoas que está seguindo as orientações de distanciamento social diminuiu nesse intervalo de um mês, embora os números sejam semelhantes: apenas 12,6% dos entrevistados alegou estar sempre em casa. No início de junho, eram 12,7% dos entrevistados.
“É interessante porque começamos essa pergunta lá no primeiro inquérito, e percebemos que o perfil de distanciamento social do início de abril até esta fase de julho mudou. Ao mesmo tempo em que estamos notando e inclusive documentando um aumento progressivo das infecções, traduzidas pelo aumento da prevalência de pessoas com anticorpos, notando uma queda na adesão ao distanciamento”, observou o professor Barros.
As pessoas que só saem para cumprir atividades essenciais correspondem a 54,1% dos entrevistados, e aquelas que saem diariamente são 33,7% dos entrevistados. No final de junho, 54,6% dos entrevistados saia para atividades essenciais, e 32,7% relatava sair diariamente.
Letalidade
A letalidade baseada no total de casos é de 1,4%, com uma relação de 1.570 mortes para cada 108.716 casos. Isso porque a pesquisa considera que haja dois casos para cada notificação – ou seja, o Rio Grande do Sul não teria cerca de 59 mil casos confirmados, mas acima de 118 mil.
No entanto, se os dados considerados forem os casos confirmados, a letalidade é 2,6%, com 1.570 mortes para 59.779 casos.
"Se nos basearmos nas estimativas do estudo, o percentual de letalidade cai, mas é alto de qualquer modo. Estamos nos referindo a quem desenvolve a infecção pelo coronavírus, e não somente quem tem anticorpos, porque há casos assintomáticos. A ideia é que 1,4% das pessoas que desenvolvem a Covid-19% podem vir a morrer, e é uma taxa elevada", alertou Barros.
Sintomas mais comuns
Os sintomas mais relatados pelas 43 pessoas que testaram positivo para o coronavírus foram tosse (51,2%), alterações no olfato/paladar (44,2%) e diarreia (37,2%). Dor de garganta (34,9%), febre (30,2%) e dificuldade para respirar (9,3%) também foram relatados. Essa foi a quarta vez que o estudo Epicovid19 divulgou resultados sobre os sintomas.
A pesquisa
O Epicovid19 é coordenado pelo governo do Rio Grande do Sul e pela UFPel, mobilizando uma rede de 12 universidades federais e privadas: Imed Passo Fundo, Universidade de Caxias do Sul (UCS), Universidade de Passo Fundo (UPF), Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/Passo Fundo), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Pampa (Unipampa/Uruguaiana), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade La Salle (Unilasalle-Canoas) e Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí).
As duas fases do estudo somam investimentos de R$ 2,1 milhões, com apoio da Unimed Porto Alegre, do Instituto Cultural Floresta, também da capital gaúcha, e do Instituto Serrapilheira, do Rio de Janeiro. A partir desta etapa, o estudo ganha um novo parceiro, o Banrisul.
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