Uma pesquisa da Secretaria da Saúde (SES) em parceria com a Universidade Feevale e outras instituições comprovou a presença de coronavírus em águas de esgotos domésticos e hospitalares do Rio Grande do Sul.
O projeto de vigilância ambiental é coordenado pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) e tem a finalidade de obter informações sobre a circulação do vírus nas diferentes áreas do território avaliado.
Neste primeiro momento, são analisadas amostras de água em Porto Alegre e Novo Hamburgo. De acordo com a chefe da Divisão de Vigilância Ambiental do Cevs, Aline Campos, a ideia é tornar este processo uma rotina, como ocorre com o acompanhamento do cólera.
Até o momento, já foram realizadas coleta e análise de 30 amostras de 10 pontos em Porto Alegre e um em Novo Hamburgo. Dessas, seis apresentaram resultados positivos (cinco em Porto Alegre e uma em Novo Hamburgo).
Resultados preliminares da primeira etapa da pesquisa:
• Quando comparados os dados entre as três primeiras semanas de coleta, se observou aumento dos percentuais de amostras positivas. É possível inferir que a presença do vírus no esgoto sanitário apresentou crescimento, acompanhando a epidemia na região;
• A amostra coletada em Novo Hamburgo, na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Mundo Novo, teve resultado positivo;
• No ponto de monitoramento da Estação de Bombeamento de Esgoto Baronesa do Gravataí, na capital, houve a presença do vírus em 100% das amostras de esgoto bruto coletadas;
• O maior percentual de amostras positivas ocorreu nos pontos de monitoramento na Estação de Tratamento de Esgoto São João/Navegantes, que corresponde à segunda unidade de esgotos da cidade de Porto Alegre em termos de capacidade de tratamento;
• Nas amostras analisadas em pontos de monitoramento dos efluentes de estabelecimentos hospitalares verificou-se um resultado positivo na terceira semana do projeto.
“Não há indícios, ainda, que apontem contaminação humana por coronavírus por meio da água, mas resultados preliminares mostram que é possível detectar a presença do vírus primeiramente nas águas residuais domiciliares, mesmo antes de aparecerem casos confirmados da Covid-19 naquele local. Quando detectamos o vírus, sabemos que está circulando naquela região ou bairro”, explica Aline.
Análise antecede surtos isolados
A pesquisa é inédita no Estado e conta com parceria de diversas instituições, como Universidade Feevale, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ), Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade de Porto Alegre (Smams) e Secretaria Municipal de Saúde de Novo Hamburgo.
A professora do mestrado em Virologia da Feevale e uma das coordenadoras do projeto, Caroline Rigotto, ressalta que o grupo trabalha no projeto de expansão da pesquisa. “Estamos pensando em pontos estratégicos, como comunidades em vulnerabilidade social e com deficit de esgotamento sanitário”, afirma, acrescentando que a epidemiologia baseada em esgoto é uma ferramenta que foi bem aceita e, provavelmente, se estenderá a médio e longo prazos, auxiliando no monitoramento e antecedendo surtos isolados.
Estudo semelhante em outros países
As amostras de água coletadas de estações de tratamento, de efluentes hospitalares e de pontos de captação de água bruta passam por análise molecular para definir a ocorrência e quantificação do RNA viral do Sars-CoV2 (coronavírus). Planeja-se estender o monitoramento por 10 meses, permitindo acompanhar a ocorrência e distribuição do vírus ao longo da pandemia e das diferentes sazonalidades.
Aline Campos diz que esse estudo está em andamento também em Minas Gerais, São Paulo e em países como Holanda, Itália e Austrália. Nesses lugares, é possível apontar aumento da presença de coronavírus em esgotos conforme aumenta o número de casos confirmados da Covid-19 no local, o que vem se repetindo também aqui no Estado. A realidade do Rio Grande do Sul, porém, é bem diversa desses lugares e deve ser levada em consideração na pesquisa.
Posteriormente, estudos genômicos, por meio do sequenciamento do genoma completo das amostras positivas, serão realizados no Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT/Cevs), permitindo a comparação com genoma de amostras clínicas de pacientes.
A Fiocruz realizará o isolamento viral, pesquisando a viabilidade e eventual infectividade do vírus presente nas amostras ambientais. Com dados que permitam uma análise estatisticamente representativa, técnicos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS) realizarão estudos, de modo a contribuir na avaliação do impacto das intervenções adotadas e estudos de modelagem ambiental. Está prevista a divulgação periódica dos resultados preliminares das análises.
Clique aqui e acesse o primeiro boletim de acompanhamento da pesquisa.
Texto: Ascom SES
Edição: Secom