Os novos ministros da Saúde, o interino
Eduardo Pazuello, e da Justiça,
André Mendonça,
revogaram uma portaria interministerial de 17 de março, assinada por seus antecessores,
Luiz Henrique Mandetta e
Sergio Moro, respectivamente, que tratava do
isolamento social durante a pandemia do novo
coronavírus e previa
punições para quem o desrespeitasse. A
revogação foi publicada na edição desta quinta-feira (28/5) do
Diário Oficial da União.
A
portaria de Moro e Mandetta regulamentava trechos da
Lei nº 13.979, que trata sobre as medidas para enfrentamento da pandemia e continua em vigor. O documento revogado tratava da "compulsoriedade das medidas" apresentadas na lei.
Entre outras coisas, a portaria previa que quem desrespeitasse a quarentena poderia ser enquadrado nos artigos 268 (infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa) e 330 (desobedecer a ordem legal de funcionário público) do
Código Penal. A pena para o primeiro crime é detenção de um mês a um ano. Já o segundo pode render de 15 dias a seis meses de cadeia.
O documento assinado por Moro e Mandetta, contudo, ressaltava que os infratores poderiam assinar um termo circunstanciado por infração de menor potencial ofensivo para evitar a prisão. Caso a detenção fosse inevitável — na hipótese da não assinatura ou de haver um crime mais grave — havia a recomendação para que os detidos fossem mantidos em celas separadas.
Na revogação, Pazuello e Mendonça argumentam que "deve ser assegurado às pessoas afetadas em razão da aplicação das medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, o pleno respeito à dignidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais".
Dois dos ministros mais populares de
Jair Bolsonaro (sem partido), Moro e Mandetta deixaram o governo após desavenças com o presidente. O primeiro
pediu demissão por conta de uma suposta
interferência política na direção da
Polícia Federal. O segundo, por sua vez, entrou em atrito com Bolsonaro e
foi demitido em razão, sobretudo, do isolamento social — apontado por autoridades internacionais de saúde como principal medida para conter a propagação do novo coronavírus, e do qual do presidente discorda.
Antes de Pazuello, que é interino, o Ministério da Saúde foi comandado por
Nelson Teich, que
deixou o cargo com menos de um mês também por divergências com Bolsonaro — desta vez, a respeito do uso da
cloroquina contra a covid-19, remédio que a Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomendou que deixasse de ser usado em função dos efeitos colaterais, mas do qual o presidente é entusiasta.
Apesar da revogação da portaria, o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia decidido que
governadores e prefeitos têm autonomia para decidir sobre as medidas de isolamento, não cabendo tais decisões, portanto, ao governo federal.