Qasem Soleimani foi um major-general iraniano da Guarda Revolucionária Islâmica e, de 1998 a 2020, comandante da Força Quds — uma divisão responsável, principalmente, por ações militares extraterritoriais e operações clandestinas. 
Filhos: Mohammadreza Soleimani, Zeinab Soleimani Tendência
Nascimento: 11 de março de 1957, Qanat-e Malek, Kerman, Irã
Falecimento: 3 de janeiro de 2020, Bagdá, Iraque
Irmãos: Sohrab Soleimani, Ahmad Soleimani
Pais: Hassan Soleimani, Fatemeh Soleimani
Prêmios: Order of Zolfaghar (1), Order of Fath (3)
Para o país, a morte de Soleimani representa a perda de um ícone cultural, que simbolizava o orgulho nacional e a resiliência
Morto em um ataque calculado americano nesta sexta-feira (03) em Bagdá, Qassim Soleimani era considerado por muitos como a segunda pessoa mais poderosa do Irã, atrás apenas do líder supremo Ali Khamenei, e, provavelmente, à frente do presidente Hassan Rohani.
O comandante era líder da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, unidade de elite responsável pelo serviço de inteligência e por conduzir operações militares secretas no exterior.
A Força Quds apoia, por exemplo, grupos que atuam à margem do Estado em muitos países do Oriente Médio, como o Hisbolá libanês, o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, os Houthis no Iêmen e milícias xiitas no Iraque, Síria e Afeganistão.
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“Soleimani é o agente mais poderoso do Oriente Médio hoje, e ninguém nunca ouviu falar dele”, disse um ex-agente da CIA (a agência de inteligência americana) no Iraque à revista New Yorker em 2013.
Para o Irã, a morte de Soleimani representa a perda de um ícone cultural, que simbolizava o orgulho nacional e a resiliência enquanto o país enfrentava os EUA e suas sanções.
Embora tenha tido o cuidado de evitar envolver-se publicamente na política, a figura de Soleimani ganhou com os anos importância perante as forças americanas e israelenses, que atribuem a ele os vários ataques por procuração iranianos no Oriente Médio.
Soleimani, que sobreviveu a várias tentativas de assassinato nas últimas décadas arquitetadas por americanos, israelenses e potências árabes, ganhou status de herói em seu país.
“A sua estratégia foi construída com base na ideia de defesa avançada, que era afastar as ameaças da fronteira iraniana. Ele construiu fortes laços com o Hisbolá no Líbano e com grupos de milícias no Iraque”, explica a especialista Sanam Vakil. “Essa estratégia expandiu a influência do Irã de uma forma pouco convencional e desestabilizadora em toda a região, mas protegeu o Irã e deu alavancagem a Teerã em alguns países.”
As forças armadas convencionais do Irã sofrem há 40 anos com sanções americanas, mas a força de elite de Soleimani conseguiu com sucesso construir um programa de míssil balístico. A Força Quds pode, além disso, atacar na região através de forças como o Hisbolá do Líbano e os rebeldes Houthis do Iêmen.
Como chefe da Quds, Soleimani liderou todas as ações secretas iranianas das últimas décadas e frequentemente se deslocou entre o Iraque, o Líbano e a Síria. Os membros da Força Quds foram, por exemplo, destacados para a longa guerra da Síria para apoiar o presidente Bashar al-Assad, bem como para o Iraque na sequência da invasão americana de 2003 que derrubou o ditador Saddam Hussein, um inimigo de longa data de Teerã.
Muitos consideram que Soleimani era a segunda pessoa mais poderosa do Irã, atrás apenas de Khamenei, e, provavelmente, à frente do presidente Hassan Rohani. Através de uma mistura de operações secretas e coerção diplomática, ele foi mais responsável do que ninguém no país por projetar a influência do Irã na região.
Soleimani juntou-se à Guarda Revolucionária em 1979, quando o aiatolá Khomenei voltou ao Irã e desencadeou a queda do xá, no que viria a ser conhecido como a Revolução Islâmica.
Ele conseguiu sobreviver à brutal guerra entre o Irã e o Iraque durante a década de 1980 para assumir o controle da Força Quds de elite da Guarda Revolucionária na década de 1990. No entanto, ele só ganharia notoriedade pública com a invasão do Iraque, liderada pelos EUA em 2003.
O general iraniano foi responsável pela supervisão das táticas do Hisbolá durante a guerra de 2006 com Israel e é considerado o arquiteto de um acordo de cessar-fogo entre milícias xiitas e os militares iraquianos em 2008.
As autoridades americanas descrevem Soleimani como uma peça central para ambições iranianas na região. De acordo com o ex-diretor geral da CIA David Petreaus, Soleimani disse-lhe uma vez: “General Petreaus, você deve saber que eu, Qassem Soleimani, controlo a política do Irã em relação ao Iraque, Líbano, Gaza e Afeganistão.”
Na Síria, por exemplo, as suas forças apoiaram os combatentes do regime na luta bem sucedida contra o território rebelde e no desenraizamento de grupos extremistas islâmicos sunitas, incluindo o “Estado islâmico”. Analista veterano do Oriente Médio e autor de um livro sobre o “Estado Islâmico”, Hassan Hassan avaliou que sua morte enfraquece as aspirações regionais do Irã, mais notavelmente na Síria.
“As oportunidades para o Irã na Síria são muitas vezes maiores quando combinadas com a consolidação no Iraque e no Líbano,” escreve Hassan no Twitter. “Recentemente, vimos o que o Irã pode fazer. Mas, agora, a sua capacidade de capturar a Síria está enfraquecida”.
A escalada de tensão ocorre no momento em que o Iraque já estava à beira de uma guerra por procuração de potências da região, e pouco depois de um cerco de dois dias à embaixada dos EUA em Badgá por uma multidão de militantes iraquianos. O Pentágono acusou Soleimani de ter coordenado o ataque.
A morte do general iraniano Qassim Soleimani pelos Estados Unidos na última quinta-feira (2) acirrou ainda mais as tensões entre Washington e Teerã, cujas relações vêm se desgastando desde a década de 1950.
O militar, morto em Bagdá, no Iraque, era chefe de uma unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã e considerado a segunda pessoa mais poderosa do país. Os EUA culpam Soleimani pela morte de americanos e dizem que o ataque ao general se deu para "conter o terror" no país, enquanto líderes iranianos prometeram vingança.
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Reveja os principais acontecimentos envolvendo os dois países:
19 de agosto de 1953: O chefe de governo do Irã, Mohammed Mossadegh, é derrubado, com a colaboração dos serviços secretos dos Estados Unidos e do Reino Unido, com o fim de evitar a estatização das jazidas de petróleo do país. Nos anos seguintes, Estados do Ocidente apoiam o xá Reza Pahlevi, que governa de forma absoluta.
16 de janeiro de 1979: A Revolução Islâmica força o xá a deixar o Irã. Sob o líder xiita aiatolá Khomeini, é fundada a República Islâmica. Em novembro, estudantes iranianos invadem a embaixada americana em Teerã, tomando como reféns 63 funcionários diplomáticos.
4 de abril de 1980: Os EUA suspendem as relações diplomáticas com o Irã. Em setembro, tropas do presidente iraquiano, Saddam Hussein, invadem o sudoeste do país, o Ocidente fica do lado do Iraque na guerra que dura até 1988.
20 janeiro de 1981: Os 52 reféns restantes são libertados da embaixada americana em Teerã.
1987-88: Na guerra com o Iraque, diversos ataques iranianos contra petroleiros resultam em combates entre tropas do Irã e dos EUA. Em julho de 1988, um navio de guerra americano abate um avião de passageiros iraniano, matando 290 ocupantes. Washington alega que a aeronave fora confundida com um veículo militar.
29 de janeiro de 2002: Na sequência dos atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente americano, George W. Bush, classifica o Irã, Iraque e Coreia do Norte como "Eixo do Mal". Em dezembro, ainda durante os preparativos para a invasão americana do Iraque, Washington expressara suspeita de que o Irã pudesse desenvolver armas atômicas.
Janeiro de 2006: O Irã divulga a retomada do enriquecimento de urânio para seu programa nuclear. Os EUA temem que Teerã planeje desenvolver bombas atômicas. Segundo a imprensa, em caso de guerra, Bush considera empregar armas "táticas" contra o país asiático. Em maio, o Irã ameaça rescindir o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
Agosto de 2013: O novo presidente iraniano, Hassan Rouhani, pede o fim das sanções econômicas e acata as exigências da comunidade internacional de uma redução drástica do programa nuclear nacional.
14 de julho de 2015: Em Viena é fechado o Acordo Nuclear com o Irã. O país se compromete a limitar drasticamente seu programa nuclear. Em contrapartida, as sanções econômicas são abolidas. No Irã, o acordo é festejado.
2016-18: O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia repetidamente que quer rescindir o Acordo Nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirma regularmente que o Irã se atém aos termos do acordo.
8 de maio de 2018: Trump encerra unilateralmente o Acordo Nuclear internacional com o Irã, apesar dos veementes protestos também da União Europeia. Ele ameaça os países que continuam a importar petróleo do Irã com sanções drásticas.
22 de julho de 2018: Em resposta, o presidente Hassan Rouhani ameaça bloquear as rotas de exportação de petróleo no Golfo Pérsico. Rouhani acusa Trump de tencionar destruir o Irã com suas sanções. O chefe de Estados iraniano ameaça os EUA com "a mãe de todas as guerras". O Irã já anunciara anteriormente ter iniciado os preparativos para o enriquecimento de urânio.
7 de agosto de 2018: O governo dos EUA restabelece as sanções contra o Irã. Entre outras coisas, fundos são congelados e o comércio de matérias-primas é proibido. Em novembro, as sanções são endurecidas.
25 de setembro de 2018: Para salvar o acordo nuclear com o Irã, a União Europeia quer criar um mecanismo através do qual as sanções dos EUA contra Teerã possam ser contornadas, anuncia Federica Mogherini, chefe da diplomacia da UE. Mas a instituição acaba não sendo eficaz.
8 de abril de 2019: Washington classifica a Guarda Revolucionária Iraniana como organização terrorista. É a primeira vez que os EUA adotam esse passo contra uma organização estatal estrangeira. Como reação, o governo em Teerã declara os EUA "promotor estatal do terrorismo".
13 de junho de 2019: Os EUA culpam o Irã por duas explosões de petroleiros no Golfo de Omã. Em maio, os Estados Unidos já haviam acusado o regime em Teerã de estar por trás de ataques a dois petroleiros sauditas. Trump aumenta maciçamente a presença das tropas americanas na região do Golfo e, alguns dias depois, via Twitter, ameaça aniquilar o Irã.
20 de junho de 2019: A Guarda Revolucionária do Irã abate um drone americano sobre o Golfo Pérsico. O governo em Washington nega a alegação de que o veículo aéreo não tripulado invadira o espaço aéreo iraniano. Trump cancela no último minuto um já anunciado ataque de retaliação.
4 de julho de 2019: A Marinha britânica detém na costa de Gibraltar um petroleiro iraniano que teria violado as sanções da UE. O Grace 1, que navegava com bandeira do Panamá, é suspeito de fornecer petróleo iraniano à Síria.
7 de julho de 2019: Expira um ultimato estabelecido pelo Irã para uma retirada parcial do Acordo Nuclear. O país anuncia então não pretender mais se ater ao limite de 3,67% de enriquecimento de urânio estabelecido no tratado. Os EUA ameaçam retaliar o Irã com sanções.
19 de julho de 2019: Em represália à apreensão do petroleiro iraniano Grace 1 perto de Gibraltar, a Guarda Revolucionária do Irã retém o petroleiro de bandeira britânica Stena Impero no Estreito de Ormuz.
18 de agosto de 2019: Gibraltar liberta o petroleiro iraniano Grace 1. O britânico Stena Impero é libertado em 27 de setembro.
26 de agosto de 2019: Durante a conferência do G7 na França, o presidente francês, Emmanuel Macron, tenta em vão mediar uma cúpula entre EUA e Irã.
3 de novembro de 2019: O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, se declara novamente contra negociações com os EUA. Conversas não trariam melhorias, diz ele.
3 de janeiro de 2020: O comandante da Força Quds iraniana, general Qassim Soleimani, é morto num ataque com drones dos EUA perto do aeroporto da capital iraquiana, Bagdá. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ameaça com uma "vingança implacável".
FONTE
CartaCapital.
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Por Deutsche Welle
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