A acusação de Trump ocorre em meio a uma série de incidentes envolvendo as Forças Armadas dos EUA no Caribe - (crédito: AFP)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de comandar uma estrutura de narcotráfico e incentivar a produção de drogas no país sul-americano. A declaração foi publicada neste domingo (19/10) na plataforma do norte-americano, a Truth Social.
“Gustavo Petro é um líder do tráfico de drogas ilegal que incentiva a produção massiva de entorpecentes em toda a Colômbia”, escreveu Trump. O republicano ainda afirmou que o país se tornou um "grande negócio das drogas", enquanto os Estados Unidos estariam sendo "enganados" ao manter subsídios e pagamentos ao governo colombiano. “A partir de hoje, esses pagamentos, ou qualquer outro tipo de subsídio, não serão mais feitos”, anunciou.
Ainda na publicação, Trump também ameaçou agir unilateralmente: “Petro, um líder mal avaliado e muito impopular, com uma boca fresca contra os EUA, deve fechar esses campos de morte imediatamente, ou os Estados Unidos irão fechá-los para ele, e isso não será feito de maneira gentil.”
Petro acusa EUA de assassinato e violação de soberania
A acusação de Trump acontece em meio a uma série de ataques envolvendo as Forças Armadas dos EUA no Caribe. No sábado (18/10), o presidente colombiano denunciou que uma operação militar americana teria violado a soberania marítima do país e causado a morte de um pescador inocente, identificado como Alejandro Carranza.
Segundo Petro, Carranza não tinha qualquer vínculo com o narcotráfico e sua embarcação estava à deriva por problemas mecânicos. O ataque, segundo ele, teria ocorrido no âmbito de uma campanha militar liderada por Washington próxima à costa da Venezuela. “Esperamos explicações do governo dos Estados Unidos”, escreveu Petro, em publicação na rede social X, antigo Twitter.
Familiares da vítima confirmaram que Carranza era pescador e que seu barco foi reconhecido em imagens do ataque divulgadas pela imprensa. Desde então, comunidades costeiras relataram temor em continuar com as atividades pesqueiras.
De acordo com a Marinha dos EUA, ao menos 27 pessoas já foram mortas em seis ataques contra embarcações desde o início de setembro. Em outro caso, um colombiano de 34 anos, sobrevivente de um suposto ataque a um narco-submarino, foi repatriado em estado grave e poderá ser processado por envolvimento com tráfico de drogas.
Crise entre Trump e Petro
As recentes declarações não são um caso isolado. A relação entre Donald Trump e Gustavo Petro é marcada por antagonismos políticos, ideológicos e diplomáticos desde que o colombiano assumiu a presidência, em 2022.
Em setembro deste ano, o Departamento de Estado dos EUA cancelou o visto de entrada de Petro, após uma série de críticas feitas pelo presidente colombiano durante a Assembleia Geral da ONU. Na ocasião, Petro participou de um ato pró-Palestina em Nova York e defendeu a criação de uma força armada internacional para libertar o povo palestino, superior à dos Estados Unidos. Ele também incentivou soldados norte-americanos a desobedecerem ordens de Trump, o que gerou forte reação de Washington, que classificou as falas como “imprudentes” e “incendiárias”.
Ainda naquele mês, o governo Trump acusou formalmente a Colômbia de não cooperar com os esforços antinarcóticos, apesar de ter mantido a ajuda financeira por meio de uma dispensa de sanções. A crítica foi reforçada por dados da ONU que apontaram recorde histórico no cultivo da folha de coca no país, principal insumo da cocaína.
As tensões também se inserem em um contexto geopolítico mais amplo. Trump ampliou a presença militar dos EUA na região do Caribe, especialmente próxima à Venezuela, alegando o combate ao “Cartel de los Soles”, que, segundo Washington, seria liderado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro. O ex-presidente norte-americano classifica o cartel como uma organização terrorista internacional.
Petro, por sua vez, critica a abordagem militarizada dos EUA no combate ao narcotráfico e defende estratégias alternativas, como o desenvolvimento rural e a regulação do consumo. Em várias ocasiões, ele acusou Trump de promover ações unilaterais que violam o direito internacional e os direitos humanos na região.
O governo colombiano ainda não se pronunciou oficialmente sobre as declarações de Trump deste domingo.
Com informações da Agência France-Press
Correio Braziliense
Por Amanda S. Feitoza