Entenda as denúncias contra irmã de Milei e "Lule" na Argentina
Áudios atribuídos a ex-diretor da Agência Nacional de Deficiência citam Karina Milei e "Lule" Menem em suposto esquema de propinas ligado à compra de medicamentos
Javier acusa kirchnerismo de manipular o caso politicamente - (crédito: Cezaro DE LUCA / AFP)
Um escândalo de corrupção ameaça a estabilidade política do presidente argentino Javier Milei. A Justiça do país investiga a irmã do mandatário, Karina Milei, secretária-geral da Presidência e sua principal conselheira, e o subsecretário Eduardo "Lule" Menem, apontados como beneficiários de um suposto esquema de propinas em contratos da Agência Nacional de Deficiência (Andis).
As denúncias surgiram após o vazamento de áudios atribuídos ao ex-diretor do órgão, Diego Spagnuolo, que descreve a cobrança de até 8% sobre o faturamento de indústrias farmacêuticas para garantir a compra de medicamentos pela rede pública.
O caso veio à tona na quarta-feira (20/8), quando um canal de streaming divulgou as gravações nas quais Sagnuolo acusa diretamente Karina e "Lule" Menem de chefiar um esquema de subornos. Nas mensagens, ele afirma ter provas de que a irmã do presidente recebia parte significativa das propinas. "Estão roubando. Você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim, tenho todos os WhatsApp de Karina", diz em um dos trechos.
No dia seguinte ao vazamento, Diego foi demitido do cargo e, em seguida, passou à condição de investigado. Ele alega que contratos de fornecimento de medicamentos eram condicionados ao pagamento de valores adicionais por parte das farmacêuticas. Segundo a denúncia, o negócio renderia até US$ 800 mil mensais (cerca de R$ 4,3 milhões).
Principais envolvidos
Karina Milei: irmã do presidente e secretária-geral da Presidência. Considerada a pessoa mais próxima de Javier Milei, é acusada de receber uma fatia das propinas.
Eduardo "Lule" Menem: subsecretário de gestão institucional e operador político de confiança da Casa Rosada. É apontado como responsável por organizar o esquema.
Diego Spagnuolo: ex-diretor da Andis e autor dos áudios. Denunciou o suposto sistema de corrupção, mas também é investigado por sua participação.
Emmanuel e Jonathan Kovalivker: empresários da Suizo Argentina, principal fornecedora de medicamentos ao Estado. Emmanuel foi flagrado com US$ 266 mil em espécie, enquanto Jonathan chegou a ser considerado foragido antes de entregar seu celular à Justiça.
Daniel Garbellini: ex-diretor da Andis, apontado como elo entre a agência e os empresários. Também é alvo da investigação.
Investigações
O juiz federal Sebastian Casanello e o procurador Franco Picardi conduzem o processo que está sob segredo de Justiça. Na sexta-feira (22/8), foram cumpridos ao menos 16 mandados de busca em escritórios e residências ligadas aos suspeitos. Além do dinheiro em espécie, a polícia apreendeu dois celulares de Spagnuolo, computadores, máquinas de contar dinheiro, documentos e os aparelhos dos irmãos Kovalivker. Parte das mensagens já foi recuperada, mas muitos dados estavam apagados.
O processo judicial ainda está em fase inicial e nenhuma acusação formal foi feita contra Karina Milei ou Eduardo Menem. A defesa dos envolvidos nega qualquer irregularidade e a Suizo Argentina divulgou nota garantindo estar "à plena disposição" da Justiça para colaborar com as investigações. Por enquanto, não há prisões preventivas, mas todos os investigados tiveram os bens bloqueados e estão proibidos de deixar o país.
Governo
O caso surge em um momento delicado para o presidente argentino, que enfrenta queda de popularidade e disputas eleitorais decisivas. Em duas semanas, a província de Buenos Aires, considerada o reduto político mais importante do país, terá eleições para governador. Em outubro, será a vez das legislativas, que definirão a correlação de forças no Congresso.
O Parlamento argentino já discute a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as acusações, o que pode ampliar o desgaste da Casa Rosada.
O presidente ainda não comentou diretamente as denúncias. Após dias de silêncio, ele apareceu ao lado da irmã em ato público e acusou o kirchnerismo, principal força opositora, de manipular o caso politicamente. "Eles estão irritados porque estamos roubando o roubo deles", afirmou durante um discurso em Buenos Aires, frase interpretada como uma confissão velada.
O chefe de Gabinete, Guillermo Francos, declarou que o presidente está "tranquilo" e sugeriu que o escândalo faz parte de uma "operação política". Já Martín Menem, presidente da Câmara e primo de "Lule" Menem, defendeu os acusados: "Ponho as mãos no fogo por Karina Milei e Lule", afirmou.
Como resposta institucional, o governo decretou a intervenção da Andis por 180 dias e nomeou o médico Alejandro Vilches como interventor, responsável por auditar os contratos do órgão.
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