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Acordo entre Mercosul e União Europeia está prestes a naufragar
Brasília
Publicado em 04/12/2023

Lula é recebido pelo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, em Berlim, onde fez escala após deixar a COP28. O país é favorável ao acordo com o Mercosul - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

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Victor Correia +

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou o tom e admitiu que o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia pode não sair até a semana que vem, como ele próprio esperava. Destacou, porém, que não houve falta de vontade dos sul-americanos e que os entraves foram causados pelos "países ricos", principalmente pela França. Lula comentou, ontem, o tema na entrevista coletiva que marcou o fim de sua participação na Conferência do Clima das Nações Unidas — COP28 —, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

O plano original era que o tratado fosse firmado antes da próxima quinta-feira, quando ocorre a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, no Rio de Janeiro. No evento, o Brasil passará a presidência do bloco para o Paraguai — que já declarou que não vai dar prioridade às negociações em sua gestão. As tratativas ainda continuam, com as equipes brasileiras e europeias reunidas até a data da cúpula.

"Se não tiver acordo, paciência. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que foi por conta do Brasil, e que não digam mais que é por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de qualquer concessão", declarou Lula. "É sempre ganhar mais, e nós não somos mais colonizados. Nós somos independentes. E nós queremos ser tratados apenas com o respeito de países independentes, que temos coisas para vender. E as coisas que temos para vender têm preço. O que nós queremos é um certo equilíbrio", acrescentou.

O Brasil e a União Europeia aceleraram as negociações nas últimas semanas, motivados pela eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina e pela proximidade da data-limite da presidência brasileira no Mercosul. Desde que assumiu o cargo, Lula vem falando que o acordo era uma das prioridades da política externa, e que, se não fosse firmado agora, dificilmente o seria no futuro. Os trâmites se dão há mais de 20 anos.

A COP28, que recebeu a presença de chefes de Estado de todo o mundo, era vista como uma oportunidade para Lula destravar o tratado comercial. Ele esteve reunido com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com outros presidentes do continente. Se encontrou, inclusive, com o presidente da França, Emmanuel Macron, considerado o maior entrave para o fechamento do acordo. Logo após o encontro, no sábado, Macron declarou ser veementemente contra o pacto de abertura comercial. Os últimos entraves envolviam o acesso de empresas europeias a compras governamentais brasileiras e as duras exigências ambientais que seriam impostas à América do Sul.

Perguntado sobre a resposta de Macron, Lula disse não ter sido surpresa, e responsabilizou a postura protecionista da França. "Ontem, eu fiz uma reunião com Macron para tentar mexer com o coração dele. Eu falei 'Macron, quando você voltar para a França, abra seu coração, cara. Pensa um pouco na América do Sul. Pensa no Mercosul. Nós somos países pobres. Nós temos países pequenos'. Bom, me parece que ele não pensou", lamentou Lula. "Se não tiver acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa. Agora, o que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo", afirmou.

As negociações seguirão até o último minuto, embora a possibilidade de uma solução pareça cada vez mais distante. Além das tratativas com a equipe europeia, Lula disse que seu assessor especial, Celso Amorim, vai se reunir com representantes dos movimentos sociais brasileiros, já que sindicatos e pequenos produtores também vêm criticando a proposta. Após deixar Dubai, ontem, Lula foi para a Alemanha, onde também vai tratar do acordo Mercosul-UE. O país germânico é favorável à abertura comercial entre os dois blocos.

Agora, há dúvidas se os países do Mercosul vão querer prosseguir com a negociação, caso não se encerre nesta semana. No Rio de Janeiro, haverá um encontro dos ministros da América do Sul, na quarta-feira, antes da cúpula dos chefes de Estado. Além de o Paraguai já ter declarado que não dará prioridade ao tema, ainda há incerteza se o governo de Javier Milei, na Argentina, vai concordar com o pacto. O atual chanceler argentino, Santiago Cafiero, em fim de mandato, declarou que as negociações devem continuar, mas que "não estão reunidas as condições para assinar o acordo". A cerimônia de posse de Milei na Casa Rosada, sede do governo argentino, está marcada para o próximo domingo.

correio Braziliense

Victor Correia 

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