Presidente mais jovem da história chilena assume o cargo com discurso mais moderado e enormes desafios a enfrentar. Sem maioria estável no Congresso, o político montou um ministério progressista, plural e majoritariamente feminino
O mais jovem presidente eleito na história do Chile, Gabriel Boric, 35 anos, tomou posse, ontem, cercado de muita expectativa em relação aos novos rumos do país. Com maioria feminina nos principais cargos de comando — dos 24 ministérios, 14 serão chefiados por mulheres —, Boric enfrenta, a partir de hoje, o desafio de adequar o Chile a uma nova realidade constitucional e dar vazão às pressões da sociedade civil por uma revisão das políticas públicas voltadas ao atendimento da população, que empobreceu muito nos últimos anos. Uma das principais demandas é a mudança do modelo de aposentadoria que vigora no país.
Contendo a emoção na voz, o novo presidente chileno expressou um "grande senso de responsabilidade e dever com o povo". O político de esquerda chega ao poder com uma retórica feminista, ecologista, de códigos moderados, em um país que busca um novo pacto social.
"Faremos o possível diante dos desafios que enfrentamos como país", disse, em discurso, visivelmente emocionado, na conclusão da cerimônia de posse no Congresso do Chile, em Valparaíso, a 120km de Santiago.
Boric voltou à casa presidencial, em Cerro Castillo, de frente para o mar do Pacífico, onde a diplomata da Ilha de Páscoa, Manahi Pakarati, recebeu como diretora de Protocolo cada convidado do novo mandatário: os presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou; da Argentina, Alberto Fernández; do Peru, Pedro Castillo; Rei Felipe VI da Espanha; Luis Arce, da Bolívia; e a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, além do candidato colombiano Gustavo Petro.
O governo brasileiro foi representado apenas na solenidade de posse, no Congresso, pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
Boric tornou-se o presidente mais jovem do país, em um dos momentos mais desafiadores desde o fim da ditadura de 17 anos de Augusto Pinochet, em 1990.
O ex-líder estudantil se emocionou, contendo as lágrimas, ao receber a faixa presidencial de Piñera, empresário milionário de 72 anos, que encerra o segundo mandato (de 2010 a 2014, e de 2018 a 2022) como parte de um ciclo político que trouxe progresso graças a um modelo neoliberal, mas, também, uma grande lacuna na desigualdade social que motivou a onda de protestos em outubro de 2019.
Após a cerimônia, os ministros prestaram juramento perante o presidente Boric, começando por Izkia Siches, médica de 35 anos, a primeira mulher a assumir a pasta do Interior.
Correio Braziliense