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Crianças entram em clubes de strip virtuais com app do Metaverso, revela investigação da BBC
Tecnologia
Publicado em 02/03/2022

Aviso: esse artigo contém texto e imagens com conteúdo sexual

Uma pesquisadora da BBC News se passou por uma menina de 13 anos e testemunhou assédio, situações de teor sexual, insultos racistas e uma ameaça de estupro no metaverso, mundo da realidade virtual.

Ela usou um aplicativo voltado para maiores de 13 anos e visitou salas virtuais onde avatares simulavam sexo. Foram exibidos brinquedos sexuais e preservativos a ela, que foi abordada por vários homens adultos.

O metaverso é o nome dado aos jogos e às experiências acessadas com óculos de realidade virtual. A tecnologia, antes restrita ao mundo dos games, está sendo adaptada para muitas outras áreas — para assistir a shows ou idas virtuais ao cinema, passando por atividades do mundo corporativo.

Mark Zuckerberg considera o metaverso o futuro da internet — tanto que recentemente rebatizou sua corporação como Meta e tem investido bilhões de dólares no desenvolvimento de seu Oculus Quest.

Estima-se que o Oculus Quest - que agora leva a marca Meta Quest - tenha até 75% da participação de mercado. Foi um desses aparelhos que a pesquisadora da BBC News usou para explorar um aplicativo chamado VRChat, uma plataforma virtual online que os usuários podem explorar com avatares 3D.

Embora não seja feito pela Meta, ele pode ser baixado de uma loja de aplicativos no óculos Meta Quest sem verificações de idade mínima- o único requisito é uma conta no Facebook.

A Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade contra Crianças (NSPCC, na sigla em inglês), uma organização britânica voltada para a segurança de crianças, declarou estar "chocada e irritada" com o que foi revelado pela investigação da BBC.

Andy Burrows, chefe para políticas de segurança infantil online da entidade, acrescentou que os achados demonstram "uma combinação tóxica de riscos" e que alguns aplicativos no metaverso têm uma "natureza perigosa".

A pesquisadora da BBC News criou um perfil falso para configurar sua conta — e sua identidade real não foi verificada.

Dentro do VRChat, há salas onde os usuários podem se encontrar: algumas ambientes são inocentes — um McDonald's, por exemplo — mas também há pole dance e clubes de strip-tease.

As crianças circulam livremente ao lado de adultos.

Um homem disse à nossa pesquisadora que os avatares "podem tirar a roupa e fazer coisas impublicáveis". Outros falam em "jogos eróticos".

Após a investigação da BBC News, a NSPCC disse que melhorar a segurança online é uma questão de urgência.

Burrows, do NSPCC, disse que "crianças estão sendo expostas a experiências totalmente inapropriadas e incrivelmente prejudiciais"

Ele acredita que empresas de tecnologia aprenderam pouco com os erros cometidos na primeira geração de mídias sociais.

"Este é um produto que tem uma natureza perigosa, por causa da falta de supervisão e por negligência. Estamos vendo produtos sendo lançados sem considerações sobre a segurança" para os usuários, disse ele.

A Meta declarou que oferece ferramentas que permitem aos jogadores bloquear outros usuários e está procurando fazer melhorias de segurança "à medida que aprende como as pessoas interagem nesses espaços".

A BBC News também conversou com um ativista do campo da segurança online que passou meses investigando o VRChat e que agora publica seus vídeos no YouTube.

Ele conversou com crianças que dizem ter sido assediadas na plataforma e forçadas a participar de sexo virtual. Ele prefere permanecer anônimo porque está preocupado com a segurança de sua família.

O ativista explicou porque a realidade virtual é tão imersiva que as crianças representam os movimentos sexuais.

BBC

A pesquisadora da BBC Jess Sherwood investigou o app VRChat

Eu fiquei surpresa como você fica totalmente imersa nesses espaços. Me senti uma criança de novo. Quando homens adultos perguntavam por que eu não estava na escola e me encorajavam a participar de atos sexuais na realidade virtual, tudo pareceu mais perturbador.

O VRChat definitivamente parecia mais um playground para adultos do que para crianças. Muitos dos quartos tinham uma decoração de atmosfera erótica, em neon rosa, algo parecido com o que você vê no Bairro da Luz Vermelha em Amsterdã ou nas partes mais decadentes do Soho de Londres à noite. No interior do quarto, era possível avistar brinquedos eróticos.

A música que toca nas salas, que pode ser escolhida pelos jogadores, aumenta a impressão de que esse não é um espaço próprio para crianças.

Tudo nos quartos era inquietante. Havia avatares que simulavam sexo grupal no chão, falando uns com os outros como crianças fingindo ser casais adultos.

É muito desconfortável, e as opções são ficar e assistir, passar para outra sala onde haverá algo semelhante ou então participar — o que, em muitas ocasiões, fui instruída a fazer.

'Pouca moderação'

Pessoas cujo trabalho é observar os avanços da realidade virtual também estão preocupadas.

Catherine Allen dirige a consultoria Limina Immersive e atualmente escreve um relatório sobre realidade virtual para o Institution of Engineering and Technology, em Londres.

Ela diz que sua equipe de pesquisa considerou muitas de suas experiências em VR "divertidas e surreais", mas outras foram "bastante traumáticas e perturbadoras".

Allen descreve um caso ocorrido em um aplicativo de propriedade da Meta onde havia uma menina de sete anos.

Um grupo de homens cercou as duas e fez uma piada sobre estupro. Allen disse que teve que ficar entre os homens para proteger a criança.

"Eu não deveria ter feito isso, mas é porque não há moderação, ou aparentemente bem pouca moderação."

Realidade virtual e o metaverso não são especificamente mencionados nnovas leis de segurança na internet do Reino Unido, que deve ser apresentado ao parlamento britânico nos próximos meses.

Mas em audiência no parlamento no ano passado, a secretária de Cultura, Nadine Dorries, havia deixado claro que a legislação cobriria esse campo.

O projeto de lei, ao ser aprovado, vai cobrar responsabilidade das plataformas e dos provedores para proteger crianças contra conteúdo nocivo

O VRChat disse à BBC que estava "trabalhando duro para tornar o app um lugar seguro e acolhedor para todos". A empresa disse que "comportamento predatório e tóxico não tem lugar na plataforma".

O gerente de produto da Meta para integridade de VR, Bill Stillwell, disse em um comunicado: "Queremos que todos que usam nossos produtos tenham uma boa experiência e encontrem facilmente as ferramentas que podem ajudar em situações como essas, para que possamos investigar e agir"

Ele acrescentou: "Para aplicativos de plataforma cruzada, fornecemos ferramentas que permitem que os jogadores denunciem e bloqueiem usuários".

"Continuaremos a fazer melhorias à medida que aprendemos mais sobre como as pessoas interagem nesses espaços".

As organizações para a segurança de crianças aconselham os pais a verificar quais aplicativos seus filhos estão usando nos óculos de realidade virtual e, sempre que possível, usá-los para checar se as atividades são apropriadas.

Muitos apps permitem que os usuários "transmitam" simultaneamente sua experiência para um telefone ou laptop, para que os pais possam assistir ao que está acontecendo ao mesmo tempo que seus filhos brincam.

BBC

Angus Crawford e Tony Smith - BBC News
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