Reator instalado no Reino Unido gera 59 megajoules, quantidade capaz de abastecer 35 mil casas durante cinco segundos. Para ambientalistas, ainda que promissora e menos poluente, a tecnologia não resolve os problemas climáticos atuais
Cientistas britânicos produziram uma quantidade recorde de energia por meio da fusão nuclear, método que copia uma reação química que ocorre no centro do Sol. A façanha é fruto de mais de duas décadas de trabalho, período em que especialistas se dedicam a criar uma forma de gerar energia mais limpa, sem resíduos radioativos e gases nocivos ao meio ambiente. Apesar das vantagens, a tecnologia é controversa. Ambientalistas argumentam que se trata de uma possibilidade de fonte energética incapaz de sanar os danos climáticos que já castigam o planeta.
A equipe do Joint European Torus (JET), o maior reator de fusão do mundo, localizado perto de Oxford, conseguiu gerar 59 megajoules de energia (11 megawatts de potência) em dezembro passado. A quantidade, que é equivalente a cerca de 14 quilos do explosivo TNT, foi obtida durante uma explosão de fusão de cinco segundos. "É a energia necessária para cobrir as necessidades, durante cinco segundos, de 35 mil residências", ilustra, em comunicado, Joe Milnes, diretor de Operações do JET.
O valor obtido é mais do que o dobro do recorde anterior, de 21,7 megajoules, conquistado, em 1997, pelo mesmo grupo. Segundo a Autoridade Britânica de Energia Atômica, os resultados "são a demonstração mais clara, em escala mundial, do potencial da fusão para fornecer energia sustentável". Porém, o tempo de duração da reação é considerado um obstáculo a ser vencido. Para especialistas, trata-se de um período ainda muito curto. "Cinco segundos não é muito, mas é possível trabalhar com esse resultado e, aos poucos, você estende a estabilidade e a queima por muitos minutos, horas ou dias, que é o que precisamos para ter uma usina de fusão de excelência", disse, ao jornal The Guardian, Mark Wenman, pesquisador do Imperial College London que não está envolvido no projeto.
Filipe Tôrres, membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e doutorando em engenharia da Universidade de Brasília (UnB), faz uma avaliação parecida. "Esses cinco segundos parecem pouco, mas são uma conquista muito grande, é um recorde a se comemorar, pois pode gerar resultados muito satisfatórios e relevantes no futuro", diz. "Essa reação é tão forte que libera uma energia maior que a de uma bomba nuclear, ou seja, uma eficiência magnífica." O especialista brasileiro aponta que outro desafio a ser superado é transformar essa energia liberada em eletricidade, para que ela possa ser usada de forma cotidiana.
Vilhena Soares