Especialistas falam sobre sobre os aspectos psicossociais no enfrentamento da doença e na proteção e promoção da saúde do paciente
Especialistas falam sobre sobre os aspectos psicossociais no enfrentamento da doença e na proteção e promoção da saúde do paciente
O câncer ceifa, anualmente, cerca de 10 milhões de vidas. Segundo a ONG suíça, Union for International Cancer Control (UICC), até 2030 as mortes pela doença atingirão 13 milhões. Mais de um terço desses casos são passíveis de prevenção e um outro terço pode ser curado se detectado precocemente e tratado. 65% dessas mortes são localizadas em países menos desenvolvidos e as brechas na assistência dos pacientes desses locais é a bandeira da edição 2022 do Dia Mundial de Luta Contra o Câncer, celebrado em 4 de fevereiro.
Todos os anos, durante praticamente o ano todo, debate-se sobre o câncer. Temos mês do câncer de mana, de próstata, de pele, colo do útero, intestino, entre outros. Mas nunca é demais falar sobre prevenção, diagnóstico e tratamento. “Sabemos que um terço dos casos de câncer são evitáveis. Portanto, a possibilidade de prevenir essa doença, que faz milhões de vítimas todos os anos, nos dá motivos para agir”, disse a oncologista Elisa Cançado Porto.
Além disso, neste 4 de fevereiro, o foco é debater sobre algo, muitas vezes, esquecido nos meses dedicados aos tipos específicos da doença: a saúde mental. “O autocuidado, incluindo atenção ao bem estar emocional, e a realização dos exames periódicos indicados para sua faixa etária contribuem para a prevenção ou diagnóstico precoce da doença”, alertou Elisa.
Para discutir os desdobramentos envolvendo o bem-estar mental e emocional e o enfrentamento ao câncer, uma equipe multidisciplinar se reuniu para realizar um webcast gratuito. Nesta sexta-feira (4/2), oncologistas, psicólogos, pesquisadores, especialistas em psicologia positiva, vão abordar a relevância dos aspectos psicossociais no enfrentamento do tratamento, bem como na preservação e na promoção da saúde mental durante e após a doença.
Onde fica a felicidade?
Não é novidade que o diagnóstico abala o psicológico do paciente. “Abalar-se diante do diagnóstico é uma reação que atesta a nossa humanidade. O importante para o núcleo de apoio ao paciente é compreender que não se está tratando de um tumor, mas de um ser humano em sua integralidade”, ressalta a pesquisadora Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência. Alguns estudos sugerem ainda que há uma associação entre sintomas depressivos e uma pior sobrevida para o paciente.
A psicóloga Cristiane Decat Bergerot, alerta que, após receber o diagnóstico, é comum os pacientes apresentarem sentimentos como medo, tristeza, raiva, ansiedade e depressão, que poderão mudar durante e após o tratamento do câncer. Segundo ela, cerca de 40% dos pacientes oncológicos apresentam algum tipo de transtorno mental após a detecção do câncer.
“É importante saber que não há sentimento certo ou errado. Cada um irá enfrentar a jornada do câncer de uma forma diferente. Contudo, é preciso estar atento a essas respostas emocionais, a intensidade e a duração desses sintomas”, alertou. A especialista atenta ainda para a necessidade do suporte psicossocial. “Um profissional qualificado poderá auxiliar no reconhecimento desses sintomas e no uso de estratégias adaptativas no enfrentamento dessa jornada”, assegurou.
Dessa forma, uma das missões durante o tratamento é saber como manter a felicidade. “Temos instrumento para rastreamento de sofrimento psíquico em pacientes oncológicos: o termômetro do distress, que é considerado um sexto sinal vital, e que foi validado no Brasil pela pesquisadora e psicóloga Cristiane Decat Bergerot. Ao avaliar o paciente no início do tratamento, torna-se possível compreender suas necessidades e oferecer a ele a atenção adequada”, informou Carla.
A felicidade é compreendida pela psicologia, especificamente pela psicologia positiva, como uma combinação de experiências de bem-estar, que são voláteis, passageiras, e percepção de sentido de vida, que é a narrativa mental que estabelecemos sobre o valor da nossa própria existência. Sendo assim, a mestre em psicologia, Carla Furtado, garante que é sim possível ter encontros com a felicidade durante a caminhada em busca da cura para o câncer. “Outro ponto importante é compreender que, nesta abordagem, a tristeza e outras emoções de valência negativa não constituem o oposto de felicidade. O oposto está associado ao descontentamento, enquanto a felicidade está associada ao contentamento”, alertou.
“Não há receita para a felicidade nem para pessoas saudáveis, menos ainda diante da adversidade de um câncer”, frisou Carla. Ela explica ainda que a ciência apresenta, até então, a partir da psicologia e das neurociências, que há possibilidade de fomentar a felicidade desde que não se estabeleça uma busca obsessiva. “Diria aqui como especialista e da posterior experiência como paciente oncológica, é que a rede de apoio real é um fator protetivo para a saúde mental e potencial promotor de bem-estar”, garantiu. Todos esses aspectos serão abordados no webcast “É possível florescer apesar e a partir do diagnóstico de câncer?”.
Aline Brito