Segundo Pedroso, o revestimento, além de inadequado, não tem qualquer eficácia como isolante acústico
(crédito: Reprodução/TJRS)
No segundo dia do julgamento dos quatro réus indiciados pela tragédia da Boate Kiss, há nove anos, em Santa Maria (RS), o depoimento do engenheiro civil Miguel Angelo Teixeira Pedroso mostrou que os donos da casa noturna não seguiram orientações técnicas para a montagem do isolamento acústico. Segundo ele, as paredes foram revestidas com espuma, material de fácil combustão que libera fumaça tóxica.
Segundo Pedroso, tal revestimento, além de inadequado, não tem qualquer eficácia como isolante acústico. "Quando entrei, a primeira coisa que reparei foi que a parede estava forrada de espuma, cinza. Eu disse para o Elissandro (dono da boate) que a espuma não tinha nenhuma eficácia em isolamento acústico", lembrou.
O engenheiro, responsável por um projeto de reforma acústica da casa de shows, disse que a espuma para isolamento acústico — chamada de elastômero — serve apenas para garantir o conforto de músicos em estúdios de gravação — e que ele não incluiu no projeto que realizou. "Só posso deduzir que foi feita numa obra posterior à minha", disse.
Pedroso acrescentou que "só um leigo poderia achar que espuma seja conveniente dentro de uma boate". A reforma dele teria sido realizada entre o final de 2011 e o início de 2012.
Começo do fogo
Também ontem, a advogada Jéssica Montardo Rosado, que estava na boate e perdeu o irmão, Vinícius, na tragédia, prestou depoimento. Ela estava em frente ao palco, quando as chamas começaram a tomar conta do lugar.
"Vi a hora em que começou o fogo. Vi quando pegou a faísca, vi quando jogaram uma garrafinha d'água (na tentativa de apagar as chamas). Até que o Marcelo (músico) colocou o microfone no chão e gritou 'sai!'", relatou.
Jéssica explicou que correu em direção à saída e, quando chegou à porta, procurou pelo irmão. "Não enxerguei, tinha muita gente", acrescentando que tentou voltar para o interior da boate para procurá-lo, mas não conseguiu. Vinícius foi levado para o Hospital de Caridade Astrogildo Azevedo, um dos maiores da cidade, mas morreu por volta das 6h do dia seguinte.
Outro de depôs ontem foi Emanuel Pastl, sobrevivente da tragédia. Ele tinha 19 anos à época e ficou internado para tratar de queimaduras de terceiro grau e lesões no pulmão. Segundo ele, não houve nenhum aviso de que a boate estava pegando fogo.
"Quando deu o princípio de incêndio, não soou nenhum alarme. Não estava clara a rota de saída de emergência e também não teve iluminação. Eu não tinha visualização nenhuma. Não lembro de ter visto extintor", explicou Emanuel.
Taísa Medeiros
correio Braziliense