Metade dos 2 mil apenados do Complexo Penitenciário de Canoas de Canoas realizam alguma atividade laboral no local. Além de serviços de limpeza e manutenção da casa prisional, há áreas de produção artesanal, marcenaria e costura entre outros. São mais de 800 ligas laborais entre internas e externas.
A ressocialização de presos é uma das prioridades da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e da Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo (SJSPS). “Os presos se comprometem com o trabalho, veem nele uma oportunidade de uma vida melhor fora do presídio”, afirma Loivo Machado, diretor do complexo inaugurado em 2016.
Além do trabalho, é incentivada a inserção dos apenados em atividades de ensino. Quase 200 presos estão matriculados no Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Neeja) e cerca de 200 realizaram cursos profissionalizantes neste ano. Além disso, em torno de 300 participaram das provas do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e 80 se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“Muitos presos não tiveram a oportunidade de aprender um ofício ou de estudar. Aqui eles aprendem e saem com esperança de ter um emprego. Tivemos muitos presos que saíram daqui e foram contratados imediatamente para trabalhar em alguma empresa”, afirma Heitor Paveglio, coordenador do trabalho prisional do complexo.
Além da capacitação, os apenados recebem remuneração quando há uma parceria com empresa ou órgão, e a remição da pena, garantindo um dia a menos para cumprir a cada três dias de trabalho.
Produção de móveis e estofados
Na área da marcenaria, 74 apenados produzem diversos tipos de camas e cadeiras. A competência no serviço e a qualidade do trabalho são destacadas pelo empresário Adriano Azevedo de Medeiros, proprietário da Caroline Cardoso Móveis, que tem um pavilhão de trabalho no complexo.
“Há doze anos trabalho com mão de obra prisional. Comecei no Complexo de Canoas no ano passado e pretendo expandir ainda mais. Alguns apenados que se capacitaram nesta área hoje estão em liberdade e são gerentes de empresas de estofaria. Um deles tem uma fábrica própria no interior, empregando 16 pessoas”, afirma.
Pecan móveis
Na área da marcenaria, 74 apenados produzem diversos tipos de móveis - Foto: Divulgação Susepe
Na casa prisional, apenados também trabalham diariamente na montagem de diferentes modelos de poltronas e bancos estofados. “Já chegaram a produzir 186 poltronas em um dia. É um trabalho de muita qualidade”, afirma Diego Monteiro, agente penitenciário, supervisor do termo de cooperação.
Muitos produtos saem prontos e embalados do complexo, diretamente para lojas, inclusive para outros Estados. Além disso, móveis fabricados na unidade são exportados para países da América do Sul, como Uruguai, Argentina e Peru.
Roupas impermeáveis
Em maio, foi iniciada a produção de roupas impermeáveis em parceria com a empresa Pioneira Capas. Todos os apenados recebem um treinamento básico no setor, buscando um melhor desempenho no trabalho, além de qualificação para posterior atuação fora da penitenciária.
Quinze presos trabalham no local onde são produzidas cerca de 150 peças por dia. A empresa pretende expandir para 60 detentos até o fim do primeiro trimestre de 2022.
Cultivo de frutas e legumes
Na horta da unidade, sete apenados participam do projeto Cultivando o Futuro, que visa trazer conhecimento sobre trabalho rural e possibilitar uma vivência ao ar livre para os presos. São cultivadas diversas culturas, como morango, uva, pitaia e pepino.
A empresa Bio-C, de Montenegro, é parceira do projeto, fornecendo resíduos para a adubação das plantas.
“Muitos apenados trabalharam anos no campo mas não tiveram uma formação na área. Aqui eles recebem um conhecimento técnico para a área rural", afirma Nelson Henrique, agente penitenciário responsável pela horta. A produção é voltada para a alimentação na casa prisional, e o excedente é doado a ONGs.
Oficina de trabalho sustentáveis
Parte do material descartado na produção dos móveis é reaproveitado nas oficinas de trabalho sustentáveis. Utilizando madeira reaproveitada, os presos trabalham produzindo bancos, mesas e outros móveis.
A produção é destinada aos familiares dos detentos e vendida fora da unidade.
Esteiras térmicas
Em abril deste ano, foi iniciada a produção de esteiras térmicas feitas utilizando caixas de leite. As esteiras são utilizadas para adequação térmica de casas de pessoas em situação de vulnerabilidade social, servindo tanto para o inverno como para o verão.
“É bom porque ocupa a mente da gente, nos dá motivação para seguir em frente”, afirma o apenado L. Ele conta com outros quatro colegas na produção, dividida em quatro etapas: corte, lavagem, secagem e ligação das partes.
Cerca de 17 mil caixas de leite são reaproveitadas por mês, sendo que para cada esteira produzida são utilizadas 10 caixas. As esteiras são repassadas para uma ONG de Canoas que trabalha na assistência a pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e suas famílias.
As tampas da embalagens descartadas também são reutilizadas e viram matéria-prima de cortinas e tapetes.
Texto: Daniel Baptista, com supervisão de Gisele Reginato/Ascom Susepe
Edição: Secom
Foto: Divulgação Susepe