A reação de Gallo — cofundador do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland e da Rede Global de Vírus — foi de incredulidade - (crédito: institute of human viroly)
No início da década de 1980, um vírus potencialmente letal à época infectou, principalmente, homens gays em Nova York. O virologista Robert Charles Gallo, 84 anos, concluiu que o HIV era a causa da Aids. Além de descobrir os retrovírus humanos, ele desenvolveu o primeiro teste para detectar o vírus no sangue. O norte-americano e os colegas Luc Montagnier (França) e Françoise Barré-Sinoussi (Tunísia) isolaram o HIV. O Correio perguntou a Gallo sobre a relação feita pelo presidente Jair Bolsonaro, durante a live da última quinta-feira, de que pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 desenvolveriam Aids. A reação de Gallo — cofundador do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland e da Rede Global de Vírus — foi de incredulidade.
O presidente Jair Bolsonaro disse que pessoas que completam o ciclo de vacinação contra a covid-19 têm desenvolvido síndrome da imunodeficiência adquirida. Como o senhor vê essa declaração?
Não li as palavras exatas dele, mas é difícil acreditar que alguém afirmaria que a vacina contra a covid-19 causa Aids. Nós sabemos o que causa a Aids. Talvez, seu presidente quisesse dizer que, imediatamente depois da vacinação, o HIV pode ficar um pouco mais ativo, o que é verdade para qualquer antígeno externo. Ou que vacinas possam ativar células imunológicas, mas isso não tem qualquer significado, e é algo que não dura muito. Não sei o que o seu presidente disse. Então, não quero ser muito crítico. Mas é óbvio que nem a vacina contra a covid-19 nem qualquer outra vacina causa Aids.
Qual é a importância de as pessoas se vacinarem contra a covid-19?
A importância é prevenir a infecção e a progressão da doença pelo vírus. Para isso, você deve ser imunizado com uma vacina eficiente.
Que mensagem o senhor enviaria às pessoas que insistem em negar a ciência?
Você me colocou em uma posição muito difícil com essa questão. Não debato com astrofísicos sobre como enviar um foguete para o espaço, pois não sou especialista em astrofísica. Não entendo a racionalização de alguém que não passa a vida estudando ciência e medicina achar que a opinião dele é tão válida quanto a dos especialistas que passam a vida toda pesquisando e estudando medicina. Apenas não compreendo o que ocorre nas mentes de pessoas que não escutam o que a ciência médica tem a dizer. Precisamos pedir às pessoas para que realmente pensem sobre a posição que estão adotando e percebam que isso não é racional.
Qual é a receita para pôr fim à pandemia?
Vacinas e uma população suficientemente educada. Usar medidas de prevenção quando o vírus se espalhar e tomar cuidado com locais apertados, particularmente com pessoas não vacinadas. Utilizar máscaras em ambientes fechados. Precisamos praticar essas medidas em todo o mundo, não apenas em um lugar. Resolver o problema em âmbito mundial — “pan” significa tudo.
Rodrigo Craveiro
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