Doces sem glúten nem lactose, mas cheios de sabor Brasiliense troca o jornalismo pela confeitaria, investe em receitas sem glúten, sem lactose e pouco açúcar e conquista públi
Quando descobriu, há seis anos, que tinha uma doença autoimune e que o consumo de lactose, açúcar e glúten piorava os sintomas da fibromialgia, Priscilla Klein ficou sem chão. Logo ela, que era doida por doces, estava condenada a abrir mão desse prazer. Mas a brasiliense logo tratou de dar um jeito. Foi para a cozinha e começou a fazer experimentos. “Eu pegava receitas tradicionais e substituía por ingredientes que podia comer.”
Além de fazer pesquisas na internet e em livros de gastronomia, Priscilla se inscreveu em alguns cursos, inclusive um sobre confeitaria vegana com Isabella Akkari, famosa por trabalhar receitas low carb, sem glúten nem lactose. “Há dois anos, fui a São Paulo e conheci a confeitaria dela. Vi que era possível preparar doces deliciosos, apesar das limitações, e tive a certeza que queria fazer produtos parecidos.” Ela passou a misturar referências e a fazer adaptações. Foram tantas tentativas, tantos erros e acertos, que, quando se deu conta, estava preparando ótimas sobremesas.
Formada em jornalismo, Priscilla trabalhava em uma assessoria de comunicação, mas andava em crise com a profissão. “Parece até clichê, mas, quando chegava a sexta-feira, eu era a pessoa mais feliz do mundo, e, no fim do domingo, já me batia a maior tristeza.” Veio a pandemia e a jornalista passou a se questionar mais ainda. “Eu não conseguia mais produzir, dar o meu melhor, mas faltava coragem de seguir outro caminho.”
O destino, porém, fez a sua parte. Em novembro de 2020, a empresa para a qual trabalhava encerrou o contrato com o ministério em que estava cedida e Priscilla acabou demitida. “Foi um dos dias mais felizes da minha vida, era o empurrãozinho que precisava para começar a empreender.”
E assim o fez. Comprou batedeira, forno profissional, formas e utensílios diversos e transformou uma sala comercial em um ateliê de confeitaria. O primeiro desafio veio logo nas festas de fim de ano. Priscilla adaptou uma receita de bolo de nozes, damascos e merengue de que gostava e o produziu sem leite e derivados. “Era uma torta bem natalina. E a a aprovação foi muito boa.”
Intolerantes e celíacos
De lá para cá, a confeiteira conquistou um público fiel. Ela ressalta a delicadeza de seus bolos e tortas, garante que não usa conservantes ou produtos químicos e, por isso, o prazo de validade deles é curto. Para driblar o que poderia ser um problema, Priscilla passou a comercializar unidades menores, com apenas 360, o equivalente a três fatias, e, assim, evitar desperdício. “A minha maior preocupação é com a qualidade e a origem dos ingredientes.”
Ela garante que usa apenas ovos caipiras e leite vegetal orgânico, por exemplo. Em vez de farinha de trigo, a base dos bolos é feita com fécula de batata, de inhame, e farinhas de amêndoa, de coco ou arroz — às vezes, misturadas. “Procuro usar também frutas para dar mais umidade à massa.”
Já o leite animal é substituído pelo de amêndoas, de coco ou castanha-de-caju — tudo orgânico, faz questão de frisar. “Também trabalho com pouco açúcar e, quando uso, dou preferência ao de coco, o mascavo ou o demerara.” Com tamanho cuidado, Priscilla acabou atraindo, entre os clientes, muitos celíacos, alérgicos ou intolerantes à proteína do leite e pessoas preocupadas com um estilo de vida mais saudável.
A próxima etapa é investir em bolos veganos. “Hoje, quando me pedem, eu já uso manteiga vegetal, como a ghee. Também tenho uma receita de brownie vegano, sem ovos. Mas a minha ideia é criar uma linha vegana.” Apesar de ter um cardápio fixo, que sempre tem procurado mexer, retirando ou acrescentando novos itens, nada impede que a confeiteira personalize alguns itens. Tudo ao gosto do cliente.
Hoje, entre os produtos que mais têm saída, Priscilla cita a torta brownie e a de nozes caramelizadas — uma adaptação daquela primeira, natalina. Recentemente, ela acrescentou ao cardápio o bolo de cenoura adoçado com eritritol. “Ente os adoçantes, acho que ele é o mais saudável.” A produção é sempre feita sob encomenda, via WhatsApp ou Instagram.
E, assim, a brasiliense vai fazendo experimentos, criando receitas e misturando sabores. E, hoje, pode dizer com certeza que é mais confeiteira do que jornalista.
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